DIA DAS MÃES

Antônio de Oliveira

aoliveira@caed.inf.br

Para Mia Couto, “não existe terra, existem mares que estão vazios.”

Ernest Hemingway assim descreve o velho e o mar:

“Tudo o que nele existia era velho,

com exceção dos olhos que eram da cor do mar, alegres e indomáveis.”

“O velho sempre pensava no mar como sendo ‘la mar’,

como é chamado em espanhol quando verdadeiramente o amam.”

“O velho pescador sempre pensa no mar no feminino.”

Emotivo, por natureza, é o feminino, a imensidão, a porção mulher, a concha,

o conchego, o mar, o abraço de mãe.

Abraço de mãe é uma volta ao colo, ao claustro, ao útero; ventre materno,

lar inicial, recôndito e silencioso; um oceano pacífico.

Segundo Raquel Jardim:

"O silêncio do fundo dos mares deve ser o mesmo do ventre materno".

Ou, de L.Gonzaga e H.Teixeira:

“... o mar é belo, lembra o seio de Ceci / arfando com ternura, junto à praia...”

Abraço de mãe é resgate do cordão umbilical, cicatriz no meio do ventre.

Abraço de mãe é segurar, no tempo presente, as pontas do passado.

Pensando, tratando, medicando, cicatrizando.

Abraço de mãe é sustentáculo: gera, infunde, mantém a confiança.

Abraço de mãe é embarcação em um porto seguro, justo no momento em que

o marinheiro lança a âncora, firme e cuidadosamente, ao fundo do mar.

Abraço de mãe é remanso, trecho do rio após as corredeiras,

mesmo agregando correntezas, aquelas se espalham mansamente.

Abraço de mãe lembra marido, filha, filho.

“Sem segredos, sem mentiras, sem arrependimentos.”

Sem constrangimentos nem excessos.

Abraço de mãe é fôlego para reconduzir o fio à meada.

Abraço de mãe é amplexo à maioridade do filho que nem um nadador recém-

diplomado: depois de sair da piscina lustral, enxuga o rosto sem jogar a toalha, abre os olhos para o céu nascente e, consagrado e consolidado pela consciência do viver, se inicia na vida adulta nesse ritual olímpico e sagrado.

Abraço de mãe é sempre coisa corriqueira, coisa comum.

Mas que torna cada família incomum.

E não importa o que os outros pensem nem o que os outros digam.

Abraço de mãe é espontâneo, desde o parto; no dia-a-dia, em casa,

na rodoviária, na estação de ferro, no aeroporto. Nas chegadas e partidas...

No amanhecer, no entardecer, em direção ao céu poente. No anoitecer...

Hoje é Dia das Mães. Dia de abraço de mãe. Daquele abraço. Dia de flores... Aliás, todo dia é dia de mãe. Então, seja eterno o teu abraço.

fernanda araujo
Enviado por fernanda araujo em 09/05/2010
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