Quero perder ou parar de jogar

Aposto para perder e sempre ganho, aposto na fraqueza do ser, na mediocridade do homem, na ambição tola que não leva a nada, na mesquinharia e na inveja, jogo na mesa como merda minhas fichas e coloco tudo ali no quadrado negro da humanidade, almejando ansiosamente perder, sair sem nada, pobre e feliz, crente que o mundo é valido, que a existência é plena e dentre tantos, tantos são bons e, apenas perco. Cada olhar solto e vago nas ruas, cada dialogo vazio e incoerente com a própria razão e existência, cada desentendimento em vão, são tantas as agressões, palavras cruéis e insensatas, dias a fio sem perceber o quão é curta a vida, aposto na decepção e sempre, sempre ganho, como almejo perder, como quero falir minhas convictas concepções de um mundo quase inutilizado pela ausência da cultura, do saber e do buscar, tantos dizem, sorte no jogo azar no amor, é fato, tenho ganho a tempos em tudo de ruim que acredito do ser, e logo nesta lógica, é improvável que encontre a flor, ou se quer vagando seu perfume, passamos em vão, amizades se desfazem como se nunca houvessem existido, grandes amores se esvaem e nada mais sobra, as bases que deveriam ser concretas e solidas, são feitas em pensamentos flutuantes no cotidiano e na moda do momento, nada se é pensado ou avaliado de forma efetiva, a vida é um nascer e um morrer, apenas, quantos encontro que pensam, destacam e existem ao menos por um instante, vou ganhando minhas apostas e cada ficha que coloco nos bolsos, vejo o quão é certa a solidão, um dia, ao menos, se ganhar é inevitável, encontro outro apostador, quem sabe ai, paro de jogar.