A CRÔNICA SOBRE O DILÚVIO CARIOCA
Dizem que vai chover... Alguém tira a roupa do varal. Outro desliga a televisão. Outro mais fecha as janelas e esconde os talheres de metal. Uma criança é posta no berço.
Silêncio.
E eis que um barulho se ouve, mas não há tempo para nada! É a terra e é a lama e é o lixo que se misturam e vão destruindo tudo que está pela frente.
Dizem que era uma chuva... Uma chuva de março tardio...
Quem estava em casa não saiu mais, quem saiu não pôde voltar. Água e mais água a fechar ruas e avenidas e bairros inteiros! Cidade sitiada! Cidade alagada! Cidade abandonada! água e mais água a brincar com carros e homens. Terror!
E depois da chuva ninguém conseguia acreditar no que via: desespero, estupefação!
De quem é a culpa?
Dos que mandam, dos que falam, dos que se escondem, dos que mentem, dos que guardam dólares nas cuecas, dos que subornam, dos que são subornados, dos fracos, dos sem ação, dos mudos por opção.
De quem é a culpa?
Dos que são mandados, dos que não falam, dos que querem aparecer, dos que dizem somente a verdade, dos que guardam dólares nas meias, dos que oprimem, dos que são oprimidos, dos fortes, dos ativos, dos cegos por opção.
Todos de mãos dadas e sem reclamação: culpados, culpados, sem distinção!