O dia que o Rio parou

Os fluminenses não vão esquecer os dias 05 e 06 de abril de 2010, quando um temporal caiu sobre a cidade do Rio de Janeiro e região metropolitana. Conforme o INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) a grande precipitação de água foi devido a uma frente fria vinda do oceano Atlântico que se chocou com uma massa de ar quente. O temporal que durou cerca de 20 horas foi o suficiente para alagar ruas e avenidas, parar o trânsito e deixar as pessoas ilhadas. Milhares de pessoas ficaram impossibilitadas de voltarem para as suas casas. Muitas seguiram a pé, outras dormiram na rua. Na quarta-feira pela manhã ainda chovia muito, e muitas pessoas não puderam ir para o trabalho. O comércio e as repartições públicas não funcionaram, e as aulas foram canceladas.

Com tanta chuvarada, bairros localizados em áreas ribeirinhas ficaram alagados. Muitas casas foram inundadas com enxurradas e lama. A lagoa Rodrigues de Freitas transbordou, subiu um metro. Também transbordaram córregos e canais. Muitos moradores perderam móveis e utensílios domésticos, e ainda sofreram os riscos de contrair doenças causadas pela água contaminada como leptospirose, dengue e hepatite A. A seleção de vôlei que treinava no Maracanazinho ficou ilhada por mais de 20 horas. A enxurrada também inundou o estádio do Maracanã. E toneladas de lixo carregadas pela enxurrada podiam se ver por toda a parte.

A situação se agravou com os deslizamentos de muitos morros. Muitas casas foram soterradas. Os bombeiros e a defesa civil resgataram dos escombros mais de 200 corpos, e mais de 100 pessoas estão desaparecidas. Há milhares de desabrigados, que foram acomodados em igrejas, escolas, quadras de escolas de samba e centros esportivos. Prefeitos das cidades da região metropolitana do Rio alertaram as pessoas para não saírem de suas casas enquanto a chuva não passar, enquanto moradores de áreas de riscos foram alertados a deixarem as suas casas.

Na terça e quarta-feira o programa Globo Esporte editado no Rio e exibido para todo o Brasil não foi ao ar. A repórter e apresentadora Glenda Kozlowski disse que na terça-feira chegou ao estúdio às 11:40 horas, que não houve tempo de preparar o programa, que teve de deixar o carro e completar o trajeto a pé com água batendo nas canelas. Não teve reportagens sobre esportes. Os times de futebol não puderam treinar. Com o Maracanã inundado e a cidade cheia de entulho e lixo, o jogo do Flamengo contra o Universidad do Chile pela Libertadores, que seria na quarta-feira foi adiado para quinta-feira.

Este temporal na região metropolitana do Rio de Janeiro é o maior nos últimos 44 anos. O governador e prefeitos das cidades atingidas disseram que iriam tomar todas as medidas possíveis para amenizar os problemas causados a população, como socorrer os desabrigados. As cidades mais afetadas além do Rio foram Niterói, São Gonçalo, Nilópolis e Petrópolis.

Segundo especialistas ações de prevenção poderiam impedir os prejuízos causados pelo temporal, como o reflorestamento de áreas desmatadas nos morros, o impedimento de construções irregulares próximos às encostas dos morros e obras de contenção de encostas. Outras ações são necessárias, como o aumento de galerias pluviais e drenagem dos rios, e ainda urbanizar as favelas e tirar moradores das áreas de risco. É um prejuízo que podia ser amenizado com ações de prevenções.

Os governantes disseram que todas as vítimas eram moradores de áreas de riscos como encostas de morros. O prejuízo é também material; muitas famílias perderam as suas casas e não têm onde morar. No Rio, houve deslizamentos nos morros do Andaraí, do Borel, dos Prazeres, da Mangueira, dos Macacos e do Turano. Também houve desabamentos em Petrópolis, na região Serrana e em Niterói. E por toda a região metropolitana, muitas quedas de barreiras que interditaram o trânsito de veículos. Faltaram energia e telefone em muitos municípios e em muitos bairros do Rio devido aos deslizamentos e queda de árvores

A cidade mais afetada pelas chuvas é Niterói, com mais de 100 mortes. Em um antigo lixão da cidade no morro do Bumba, onde havia um assentamento irregular, aconteceu a maior tragédia, cerca de 50 casas foram soterradas. Conforme os bombeiros, dezenas de corpos foram retirados e muitos ainda estão sob os escombros, e há muita terra para ser retirada.

Conforme os especialistas é uma área que jamais deveria se habitada. Pois é um terreno instável, com muitas camadas de lixo em decomposição, onde exala gás metano e escorre chorume, liquido viscoso e de mau odor. Há riscos de intoxicação e combustão. Houve omissão e complacência da prefeitura. Mas não adianta chorar os mortos e os prejuízos materiais. Resta, agora, a desocupação da área. E os governantes precisam reagir, antes que venha outro temporal, porque a natureza não espera.

Niterói é uma cidade rica, com a melhor em qualidade de vida do Estado e a terceira melhor do país, conforme o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano). Mas assim como na maioria das cidades brasileiras, há a complacência dos governantes em permitir o assentamento de favelas em áreas de risco. Morro não é lugar de as pessoas morarem! E o pior não há planos de urbanização e nem de antidesastre. Por isso, as tragédias catastróficas acontecem, além das condições precárias de vida, da violência e criminalidade, que é outro assunto a ser abordado.

Voltando a tragédia anunciada, por todo o Rio e região metropolitana há milhares de desabrigados, pessoas que perderam seus parentes, suas casas, móveis, vestuários e até documentos. Muitos não têm o que comer e nem vestir. Resta a nós brasileiros de norte a sul, leste a oeste, a solidariedade em ajudar com roupas, mantimentos e medicamentos. Há uma relação em vários sites, com endereços dos postos de doações e do que pode ser doado. A solidariedade une as pessoas e as conforta nos momentos mais difíceis da vida.

Alonso Rodrigues Pimentel
Enviado por Alonso Rodrigues Pimentel em 09/04/2010
Reeditado em 25/03/2011
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