Crônicas Terminais III

O mel doce dos seus lábios ainda estava na minha boca quando ela pulou, o gosto do beijo apaixonado estava na ponta da língua. Até mesmo a marca de batom vermelho suave ainda estava na minha gola, seu forte perfume ainda estava na minha camisa, que estava com alguns botões abertos.

A casa estava pronta, o clima era perfeito, a luz apagada com apenas poucas velas para não ficarmos no escuro.

Seus cabelos eram negros e longos, finos e lisos, sua pele era de um branco pálido, quase mórbido, intocável.

Todos a chamavam de Lola, era neta de italiano, com um corpo desenhado para o sexo, e os olhos feitos para o desejo.

Eu já estava sem camisa, e ela sem o vestido, seu corpo parecia cada vez mais perfeito.

Mas antes de qualquer coisa, antes do primeiro toque, eu vi seus olhos castanhos como amêndoas e neles senti a solidão, a mais bela tristeza, no mais profundo olhar, a visão mais linda da depressão. Seus olhos gritavam, mas sua boca já tinha começado a me beijar.

Diante daqueles belos olhos que pareciam filhos da tristeza eu parei, estremeci.

Ela não entendeu nada, ficou parada em cima de mim, então se levantou, sentou na cama e acendeu um cigarro. Ela me fitava enquanto eu abotoava a camisa de novo e disse com voz baixa mas muito clara:

– Ninguém nunca me olhou assim... Porque fez isso? – dizia isso enquanto soltava a fumaça para o alto com um olhar solitário.

Não pude responder na hora, me senti um nada por não ter uma resposta.

Passaram severos minutos, que pareciam mais dias inteiros de tão longos, então ela se levantou, apagou o cigarro, e se vestiu de maneira lenta, sensual quase. Deus como ela era perfeita.

- Sua tristeza me comove... – Eu disse suspirando bem baixo, então ela me olhou friamente, como se eu tivesse matado alguém, como se ela visse algo em mim que eu não sei explicar.

Parecia aflita, então vestida foi até a janela, e foi ali a ultima vez que eu a vi.

Minari
Enviado por Minari em 29/03/2010
Reeditado em 02/12/2010
Código do texto: T2165870
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