DIA DE SÃO JOSÉ

Prof. Antônio de Oliveira

aoliveira@caed.inf.br

Quando eu olho para as minhas mãos eu fico feliz, disse-me uma mulher rendeira, que não me ensinou a fazer renda nem eu, a ela, ensinei a namorar.

Não creio em fadas, mas que existem mãos de fadas, existem. Se não, como identificar as mãos de mulher habilidosa em trabalhos manuais, especialmente nos de costura? Mãos que não acenam gestos demagógicos; acenam gestos de produção. Gestos que imitam o santo de hoje, S. José, grande santo porque humilde, de grandes gestos com as mãos ocupadas porque artesão,

o carpinteiro José. Gestos de artesão cujo dia coincide com o do santo trabalhador e do trabalhador santo, do santo carpinteiro e do carpinteiro santo.

Uma carpintaria tradicional lembra ambiente de simplicidade. Cheiro de madeira serrada. Quase toda madeira, pois nem toda madeira sente da mesma maneira, é mais ou menos como o sândalo: depois de perfumar o machado que o decepou no corte da árvore, ainda assim, ao ser serrado, exala um cheirinho gostoso, característico. A luz do sol atravessa as janelas, capta e reflete o pó que ainda paira no ar. Paredes e bancadas cobertas com todo tipo de ferramentas adequadas aos serviços e dispostas para facilitar as atividades

da carpintaria. Aqui e ali, detalhes de relevos em madeira, detalhes de ambiente para compor e decorar vidas humanas. Este, sem dúvida, o santuário de trabalho do artesão José e de tantos josés carpinteiros cuja profissão e ambiente são honrados com a imagem, salpicada de pó de madeira, fininho,

do pai adotivo de Jesus. Como é sugestivo o nome Carpintaria São José!

Pergunte-se uma coisa: o que José fazia, sustentando a sagrada família com o próprio suor, era importante? Era, mas pode não parecer. Importante, para nós, são grandes feitos ou malfeitos. Importante é gente que faz, não que aparece na televisão, esse aparelho que se tornou referência do aparecer e não necessariamente do ser e do fazer. Estamos em busca de tesouros imaginários, fictícios. De Mega-Sena, de recordes, de poder a qualquer preço.

José, discreto e prudente, e não tão velho como é retratado, guardião da sagrada família, porteiro que nos abre a porta do coração, que o ódio não leva a nada (ou leva a muita coisa), que a incoerência gera ódio, a não ser a incoerência do perdão. Abrir a portão do coração e jamais trancar as portas da mente e daquele coração.

O primeiro santo canonizado foi um ‘bom ladrão’ (surpreendente!)

que comoveu o Sagrado Coração e adentrou pela porta do Paraíso,

naquele mesmo dia. Sem a reciclagem de conceitos e valores, poderíamos, constrangidos, ter de abrir novas portas não por convicção mas por imposição.

Lições da história... pouco assimiladas.

O progresso, em ritmo estressante, não pede licença.

E Minas são muitas e sempre há mais...

Mas nada mina a paciência de S. José, antissímbolo do poder esnobe.

Ele é que é o cara!

fernanda araujo
Enviado por fernanda araujo em 19/03/2010
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