MOMENTOS

Ele acordou com o canto de um galo!

Sem abrir os olhos, procurou se situar. Espreguiçou-se, deu um leve sorriso, aos poucos foi abrindo os olhos. Constatou que não sonhara. Era verdade... Olhou para o lado e viu a loira cabeleira dela. Percebeu que a felicidade era real e deixou o pensamento vagar por um passado não muito distante.

Suas lembranças voltaram àquele dia, quando acordou sentindo uma estranha sensação. Não conseguira identificar o porquê. Tentou lembrar-se de algo que pudesse ser a causa daquele sentimento. Mas, nada! Nada de novo estava acontecendo ou sendo esperado. Levantou-se, escovou os dentes, lavou o rosto, vestiu uma bermuda velha, calçou um tênis surrado e dirigiu-se à área externa nos fundos da casa, onde já lhe esperava, como todos os dias, uma esteira mecânica para uma "caminhada" de 15 minutos.

Terminada a "caminhada", esperou o corpo esfriar e entrou debaixo do chuveiro. Enquanto a água escorria pelo seu corpo deixou o pensamento caminhara a êsmo, sem parar em qualquer assunto importante.

Terminou o banho, se aprontou e seguiu para o serviço. Sentia no corpo, ainda, os efeitos do domingo, do almoço na casa da mãe em companhia dos irmãos. Fora uma farra e tanto.

Uma vez na firma, procurou se concentrar nas tarefas do dia, para ver se o tempo passava mais rápido. Tudo o que queria, era ver o fim do expediente e retornar à sua casa, tomar outro banho e deitar-se.

De repente, toca o telefone: era a esposa de um amigo o convidando, ou melhor, o intimando a comparecer à casa deles, à noite, para cantar o parabéns para o amigo. Respondera que faria o possível para ir, etc, etc... A esposa do amigo retrucou:

"-vai ver não. Tem que vir, senão vou considerar como desfeita." O amigo somente queria os verdadeiros amigos na reunião.

No fim da tarde, após o serviço, retornou à casa, tomou um longo banho. Resolvera ir ao aniversário. Apesar do dia - terça feira - não poderia deixar de ir. Não poderia fazer uma desfeita para o amigo e sua esposa. Estava, realmente, precisando arejar as idéias, constatar que a vida continua e que atrás de montanha sempre existe outra montanha.

Lá chegando, após os cumprimentos de praxe e da entrega de uma "lembrancinha, mas de coração", ao amigo, sentou-se na cadeira que ficara em uma mesa no canto da sala.Foram servidos os tradicionais salgadinhos e cervejinha bem gelada.

Pensou: "... daqui a meia hora vou embora. Alego uma reunião amanhã bem cedo e me mando". Quando já estava se preparando para colocar o plano em prática, ele a viu chegar. Loira, elegante, sensual, maravilhosa e com um sorriso que ele nunca vira outro igual em toda a sua vida.

Foram apresentados. Ele a convidou a sentar-se a seu lado. Logo, logo, chegaram outras colegas dela. Ficaram todos ali, jogando conversa fora. Mas os olhos dele não se desviavam dela, daquele sorriso, daqueles maravilhosos olhos. Os olhos dela também, de vem em quando, procuravam os seus. Aos poucos, particularam a conversa. Pareciam velhos conhecidos. A química entre eles fôra imediata, fizera até que ele se esquecesse do "plano". E assim, seguiu a noite avançando...

Mas a hora de ir, chegara. Num ímpeto de coragem e audácia, fugindo completamente de suas características, arriscou. Pediu o número do telefone dela e o registrou na agenda do celular.

Na semana seguinte, meio ressabiado, telefonou a ela. Marcaram encontro para a noite posterior. Ali mesmo, no centro da cidadezinha, num pequeno e discreto restaurante, se encontraram, conversaram e descobriram muitas coisas em comum: não só alegres, como também tristes. Mas, estas, já tinham sido enterradas. Principalmente a partir daquele momento. Isto eles sentiram mutuamente.

No dia seguinte, ela viajou em férias. Fôra para uma praia, no sul da Bahia. Ele pensou consigo mesmo: "dancei... esses baianos não dão moleza..."

Quando ela voltou, se falaram por telefone. Marcaram outro encontro e outro e outro. Descobriram que se amavam. O tempo passou, o amor se consolidou, tornou-se forte, amigo, companheiro, cúmplice, indestrutível...

Agora, ele ali. Deitado, extasiado, admirando aquele rosto angelical, de beleza infinda. Aqueles cabelos loiros que brilhavam quando um raio de sol, que penetrava pela fresta da janela, o banhavam.

Agradeceu a Deus por tanta felicidade, por tê-la colocado em seu caminho no momento certo, na hora exata.

Aconchegou-se a ela, beijou sua loira cabeleira. Baixinho, sussurou no ouvido dela: "te amo demais". Mesmo sem acordar, ela sorriu. Ele fechou os olhos e voltou a dormir.

Lá longe, o galo voltou a cantar...