DELÍRIO
Ontem à noite, a lua no céu dominava todo o horizonte: cheia, completa, luminosa, esplendorosa.
Da varanda da casa, o homem procurava concatenar seus pensamentos e domar suas saudades.
Lembrou-se dela, que estava distante, em um apartamento longe dali. Sentiu um calafrio percorrer-lhe o corpo. Percebeu que uma leve brisa passava ao largo: soprava tênue, suave, como devem soprar todas as brisas.
Instantaneamente sentiu o cheiro do corpo dela, o gosto do seu beijo, o calor do seu corpo, o brilhar de seus olhos, o encantamento do seu sorriso.
Sentiu desejos de se transformar em brisa, em vento leve: voaria, então, de mansinho, iria até onde ela estava e levemente, açoitaria a janela do quarto dela. E quando ela abrisse a janela, a envolveria carinhosamente, lhe beijaria de todas as formas, de todos os jeitos. A deitaria em seu leito alvo e a possuiria sofregamente, até que saciada e feliz, ela adormecesse em seus braço.
Então, a cobreria com um lençol de rosas, lhe beijaria a fronte e a deixaria sorrindo, feliz.
Ele acordou então do seu sonho utópico. Levantou a gola do sobretudo da saudade, enxugou as lágrimas que teimavam em correr até a borda de seus olhos e rolar pelas faces abaixo; chamou em pensamento pelo nome dela, adentrou à casa e apagou a luz da varanda.
Dirigiu-se a seu quarto, vestiu o pijama, deitou e dormiu.
Lá fora, a brisa o procurou na varanda. Não o encontrou. Deu de ombros e seguiu pela noite afora...