Conquista gratuita

A primeira namorada a gente nunca esquece! Verdade? É possível. O amor nos torna capaz das mais empolgantes façanhas. Os encantos da alma nos atingem por volta dos dezesseis anos, quando somos alcançados pelos dardos inflamados de Cupido, o deus romano equivalente a Eros, a divindade grega que simboliza o amor, a paixão e o ardente desejo carnal.

Vênus, a mãe de Cupido, era uma deusa vaidosa que não gostava de perder em aparência para ninguém. Enciumada da beleza de Psiquê, a deusa da alma, ordenou ao divino filho que a ferisse com uma de suas flechas, a fim de torná-la apaixonada pelo homem mais feio da Terra.

Cupido, para não contrariar a mãe, obedeceu-lhe as ordens. Ele tinha excelente mira com seu indefectível arco e não poderia errar nenhum alvo que se lhe descortinasse no horizonte. Prestes a ser atingida, Psiquê ergueu o braço e desviou a trajetória da flecha, que terminou por ferir o próprio arqueiro. A partir daquele momento, Cupido ficou apaixonado pela bela deusa, pois suas flechas tinham o condão de despertar o amor e a paixão em suas vítimas.

A primeira namorada de Cupido, a bela Psiquê, era deslumbrante. O coração do jovem arqueiro não resistiu ao seu charme. O encanto da moça fisgou-o de pronto. Assim, como nos acontece quando somos atingidos pelas setas do amor primeiro. Talvez, por essa razão, a gente nunca esqueça a primeira namorada. As moças, quando flechadas por Cupido, demonstram o mesmo sentimento por seu príncipe encantado.

Existem exceções. Algumas pessoas resistem aos dardos do amor. Namoram sem despertar para as grandes paixões. São volúveis e por simples motivos esquecem o outro, escorregam na lama traçoeira da infidelidade, por desejo próprio ou por desvio de conduta, esquecidas dos apelos de Cupido, o jovem deus romano que alimenta as uniões resistentes ao tempo.

O mundo também é povoado por gente que prefere o caminho da libertinagem, o sexo oportunista, gratuito, roubado de pessoas ingênusas, carentes, generosas ou alheias a qualquer sentimento afetivo.

Adelino, um jovem de boia aparência, era um deles. De boa conversa e razoável cultura, comparecia a ambientes da moda, caros e badalados, frequentados por ricos e celebridades emergentes. O caráter de Adelino, contudo, carecia de bons ajustes éticos e morais.

Mônica, garota bonita que conhecera Adelino em chique boate da cidade de São Paulo, era uma dessas “jóias” de igual quilate. Gostava da boa vida, embora isso lhe custasse à perda de alguma virtude, se acaso a possuísse.

Convidada pelo namorado fortuito, depois de uma manhã planejada para cumprir agenda de passeios, Mônica o acompanhou a uma rica joalheria paulistana. Adelino ofereceu-lhe um mimo caríssimo, de oitenta mil reais. Escolhida a jóia, o moço apressou-se em efetuar o pagamento, mediante cheque de sua emissão.

A jovem não era sua primeira namorada, mas ele fazia mesuras típicas de um homem apaixonado, como se aquele fosse o seu primeiro amor.

Realizada a compra, veio a dúvida do vendedor. O cheque precisaria ter fundos confirmados pelo banco e isso era impossível, pois os relógios anunciavam dezoito horas passadas. Adelino prontamente disse ao vendedor: Concordo com sua preocupação. Eu faria o mesmo. Façamos o seguinte: o senhor fica com o cheque e a jóia. Amanhã, quando o banco confirmar a provisão de fundos, nos telefone que viremos receber a encomenda.

No dia seguinte, o gerente da loja ligou para Adelino:

- Senhor, o banco negou-se a honrar o pagamento do cheque. Não existe saldo suficiente!

- Não tem importância, amigo. Pode rasgar o cheque e guardar a jóia. O que eu desejava, consegui ontem à noite.

Mônica não recebeu pelo pagamento de calorosa noite de amor. Adelino, por outro lado, confirmou sua esperteza.