Comunicação Interna

Por volta de 1977/1978 ele exerceu a função de Ciclista em uma rede bancária. Vinte e poucos anos, origem humilde, operaria, espirita-cristã. Gostava da rua, das vielas, do vento batendo no rosto. Suas aspirações restrigiam-se a umas duas quadras. Voos maiores, a terra prometida haveria de prover. Exceto um, que ele fazia questão de pessoalmente fazê-lo decolar.

Certa manhã, o chefe do setor, cujo nome não se lembra, avisou que haveria uma reunião geral após o almoço. Imprescindível era a presença de todos os funcionários do Departamento de Expedição.

O ar ficou amarelo. O tempo transcorreu apreensivo, fantasmagórico, guilhotinesco. Ele, assim como outros colegas, tinham suas responsabilidades. Umas planejadas, outras impensadas, outras circunstanciais. Cada um se entocou no seu eu. Lia-se no olhar a procura angustiada pelo sentido daquela convocação.

A hora critica chegou. Estão todos aqui? Eu vou dizer apenas três coisas. Prestem atenção porque não vou tornar a repetir:

Nossa empresa vai passar por mudanças profundas. Verticais e horizontais. Portanto, quem tem seu emprego trate de assegurar; quem não tem profissão definida trate de se orientar; quem tem pouco estudo trate de melhorar. Tempos cinzentos vendo vindo. A reunião está encerrada.

Ele firmou os olhos no infinito. Viu Noé confabulando com Nostradamus e seu sonho espatifado pelo chão. Com a ajuda de Zumbi, Cristo despregou-se da cruz e lhe disse: Você entendeu o recado? Levanta-te e ande. A nossa parte já foi feita desde o seu primeiro suspiro matinal.