Oligarquias
Falando de política e dos políticos, sou levado a exercitar minha intolerância com relação ao assunto. Nunca me considerei intransigente ou de “pavio curto”, como dizem ser o senhor Ciro Gomes, candidato à Presidência da República; se o Lula permitir, diga-se, para clareza dos acontecimentos partidários da atualidade.
Meu comportamento ainda não me levou, por meio da coação e da força, a reprimir as ideias que me desagradam ou que desaprovo. Acredito que o senhor Ciro Gomes, como eu, não tem feito uso dessa prerrogativa, própria das pessoas poderosas. Quem sabe, ele, do alto de seu diploma parlamentar, ex-governador, ex-ministro, irmão do chefe do executivo cearense ou como petista disfarçado (chegou a aderir ao uso da barba) seja capaz de usar a força, quando o pavio de sua intolerância alcançar o ponto máximo de agitação.
Que se cuide quem o questionar!
Como ia dizendo, não me irrito tão facilmente como o Ciro, mas, confesso, exaspero-me com políticos que manipulam o eleitor despreparado, analfabeto e ingênuo, mantendo-o em seus currais infectados pelo vírus da corrupção, para usá-lo como instrumento de perpetuação no poder.
Os velhos candidatos, aprovados nas urnas por diversas vezes, não abrem mão de se elegerem repetidamente. Eles não abandonam a rapadura, como dizemos no Nordeste. Além de insistirem em se reeleger, ainda querem que seus filhos, netos, genros, sobrinhos, enfim, um familiar seu dê continuidade às suas carreiras políticas como se fosse um reinado.
O falecido senador Antônio Carlos Magalhães é um exemplo notório. Trouxe para o Congresso Nacional, o filho, hoje senador, e o neto, atual deputado pelo DEM, partido que aceitou o governador Arruda em suas hostes, sujando as cores azuis do seu estandarte.
A tentativa ou a transferência hereditária de poder foi seguida por Jáder Barbalho, aquele da SUDAM e do INSS, que responde por inúmeros processos na Justiça e hoje é homem da confiança e conselheiro do Lula; seu filho Hélder Barbalho lutou por uma vaga na Câmara Federal. Francisco Moraes, o famoso Mão Santa, cassado quando era governador do Piauí, pretendeu que o filho Francisco Morais Júnior lavasse suas “santas mãos” nas águas do Lago Paranoá; e Collor, sim “elle”, que aí está apoiando o Lula, desejou que seu rebento Arnon Affonso de Melo percorresse os milhares de quilômetros que separam Brasília das Alagoas.
Esses são apenas alguns exemplos. Os políticos não esquecem o poder. Desejam-no ardentemente. Têm boa memória. Lembram-se, passando a língua nos beiços, das mordomias usufruídas, das benesses alcançadas e dos empregos concedidos a parentes, aos filhos, à mulher ou a sogra, sem que, pelos menos, precisem trabalhar.
O eleitor, de fraca lembrança, eterno esquecido, não lembra sequer de roubalheiras recentes, da improbidade de seus candidatos, e os elege ou a seus descendentes, herdeiros do mau caráter e da ladroagem desenfreada e impune.
O povo, nós, brasileiros de todos os naipes, somos os responsáveis pela oligarquia que perdura em nosso país. Alguns poderão achar que o ímpeto oligárquico arrefeceu ultimamente. Não é verdade, porém. Se o leitor se dispuser poderá verificar em mananciais competentes, a lista de sobrenomes que proliferam nas duas Casas do Congresso Nacional, nas assembleias estaduais e municipais, nas secretarias de governo e num sem-número de repartições mantidas com o seu “rico” (não seria pobre?) dinheirinho.
Os filhos do Lula virão aí, como candidatos. Alguns já desfrutam do privilégio de serem Secretários de Estado. O Lulinha... não, esse já é milionário, após ter recebido milhões da Telemar. Com sua inteligência ímpar continuará administrando suas fazendas de gado no estado do Pará. A Maria Letícia Lula da Silva, que talvez nem pronuncie o extenso nome por preguiça de falar, poderá ser a próxima senadora de algum estado brasileiro, uma dessas unidades da federação que tem acolhido gente de toda laia, emprestando-lhe o domicilio eleitoral e os votos de seus eleitores despreparados.
O Amapá?
Seria uma opção, não a única.
Os filhos do “Filho do Brasil”, aquele de ego inflado pela popularidade ostentada, que se julga mais real que o rei, e, em algumas situações, “um deus”, darão continuidade ao nome de família, Lula, outrora um epíteto de inexpressivo valor.
Atrás deles, ou acompanhando as suas trajetórias, virão outros filhos desse Brasil corrupto. Não será surpresa se na próxima legislatura os painéis da Câmara dos Deputados e do Senado listarem nomes das novas oligarquias tupiniquins: Palocci, Dirceu, Genuíno...