Frágil lembrança

Conheci três casais bastante interessantes. Os homens, bem educados, de boa formação acadêmica, contidos em suas emoções, despojados de exibições de poder, cultura e inteligência, eram sóbrios na aparência, inclusive quanto ao hábito de ingerir bebidas alcoólicas.

As senhoras distinguiam-se por seus portes elegantes, vestiam-se com certo recato, desfrutavam de elevados conhecimentos culturais, eram inteligentes e desprovidas de ostentações desnecessárias.

Cada par fazia uma bela figura. Um modelo. Exemplo de pessoas de bom senso, cônscias de suas responsabilidades. Todas, diga-se, eram amantes da boa mesa e da fina bebida consumida com moderação.

Orlando e Sônia, Humberto e Rebeca, Rubens e Marinalva, assim se chamava cada um desses amigos, a quem dedico profunda amizade e elevado respeito. Às vezes, eu e minha consorte, mulher a quem amo com todas as veras do meu coração, e que se assemelha às descrições de porte, cultura e discreta elegância das damas acima mencionadas, fazíamos parte de animados jantares em requintados locais em que eram servidas as mais variadas refeições.

Éramos todos da mesma idade.

Em algumas oportunidades, viajamos a Paris, a cidade-luz que nos fascina por sua história, arquitetura e belos locais de visitação. Juntos, conhecemos Veneza, Amsterdã, Londres e boa parte da Europa histórica e fascinante, onde frequentamos badalados refeitórios e nos deliciamos com excelentes vinhos.

Depois de alcançarmos a idade do “condor”, não mais viajamos ao exterior. Ficamos por aqui mesmo, nesse Brasil festeiro, onde tudo acontece. As excursões ficaram limitadas a um restaurante local, onde a comida e a bebida eram servidas por garotas de mini-saias, exibindo pernas bem torneadas e coxas robustas e rosadas. Aos cinquenta anos, isso era excelente colírio para os nossos olhos libidinosos, patrulhados pelas atentas patroas.

Na comemoração dos sessenta anos, escolhemos o mesmo restaurante. As pernas das meninas continuavam atrativas, mas o que motivou a escolha foi mesmo a boa comida e o bom vinho. Quando completamos setenta janeiros, não tivemos dúvidas em escolher novamente aquele bom restaurante; a preferência, desta feita, foi influenciada pela comodidade: alguns de nós éramos conduzidos às mesas em cadeiras de rodas.

Na oportunidade de nossos oitenta anos, pensamos voltar ao Restaurante... Restaurante... Qual o seu nome, meu Deus? Não lembro mais!