UM MUNDO (IM)PERFEITO

Seria de uma soberba inclassificável tentar adivinhar como seria um mundo próximo à perfeição. Mas eu poderia, de veneta, arriscar o meu palpite.

Tornem os livros gratuitos, incentivem-os a ler como os incentivam a ver televisão, deem-lhes mil anos.

Mais leituras geram mais conhecimento, que geram mais escritores, que geram mais livros, que geram mais leitores, que geram mais leituras, que geram mais conhecimento, que geram mais escritores, que geram mais...

Esta utopia cíclica seria o puro trânsito de informação, a sabedoria em seu estado bruto. A humanidade pensando e trabalhando a favor da própria humanidade, a mais pura e bela das metalinguagens.

Mas a máquina (ou consciência) que movimenta esse coletivo é complexa, antiga e enferrujada; e necessita de tantos quanto forem os motivos possíveis para que trabalhe, não a favor de si própria, mas em função de objetivos fugazes e perecíveis, que se encontram todos no ponto infinito do monturo do conformismo. Tal máquina segue um manual sem lógica, anacrônico, que foi redigido em uma língua completamente confusa. A língua da ignorância.

Tornem os livros tão acessíveis quanto o ar, compartilhem as ideias perenes como compartilham os problemas passageiros, deem-lhes o tempo necessário, e aí estará o novo mundo, tão perfeito quanto impossível.

“Impossível”, contudo, é apenas toda a possibilidade que, a partir da realidade imediata, revela-se intangível em um futuro tangível. Continuemos espargindo essa ideia, tendo a fé de que um dia, quando a consciência já não necessitar de manual algum, o intangível se torne tangível, o impossível se torne possível, e o mundo se torne perfeito.

Quando os mares forem livros, a leitura oxigênio, e o tempo já não for mais um obstáculo...

Josadarck
Enviado por Josadarck em 09/02/2010
Reeditado em 27/06/2011
Código do texto: T2077651
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