NA MINHA CAMPINA GRANDE DE ÔTRÓRA...- Matéria do Cantinho do Zé Povo - O Jornal de Hoje - Natal-RN - Ed. de 06 de fev de 2010
Êita, minha gente, nem tava me alembrando; “hoje é sábo seis”!... Vocêis tão canso de sabê qui eu só fíi de Natá, cidade que amo fora da conta, mais me criei entre a Cidade duis Reis Mago e ais caatinga do Carirí paraibano. Mode isso, incarnei hoje, o matuto qui véve dento d’eu e a sua linguage, mode evocá minha Campina Grande de ôtróra. Alí, “de mulecote prá rapaizíin, batia o mundo e o fundo da Rainha da Bóiburema”, mais Givaldo, motorista do caminhão, um “faiz tudo”, a séiviço do véio João Motta, meu sardoso pai; de Rivaldo, motorista de papai e qui tá bem alí no Bairro Nordeste, prá atestá o qui tô falando; de Mário Véio, ex-vaqueiro de papai; e de meu cumpade Júlio Prêto... Fechei uis zóio e me ví no pátio do Méicado Centrá, isperando papai terminá de fazê a fêra; e o Plymouth 1961, marrom metálico qui papai tinha importado, na época “istralando de nôvo”, incostado na porta da iscada do “ Beréu chamado O CANARÍIN”... Dadonde o carro ficava incostado, nóis uvia a “radiola de ficha a todo vapô, e a risadage dais fazedora de caridade”... Na isquina da ladêra do Méicado Centrá cum a Rua Quebra Quilo, na Barraca de Cardo de Cana e Raspadinha, eu me deleitava cum uis cantadô de viola, cum uis imboladô de côco, cum uis presépe duis balaiêro, duis bêbum, dais quenguinha e duis viado (de duas perna...)... Lá dento, era freqüentadô do Buteco de seu Tônhíin Agra, adonde tinha o mió figo bovino guizado daquelas céicanía. Vicente Gago, cortadô de carne de sol, qui sempre tinha um garrafão de cinco litro de “Premêra Cabeçada”, iscundido debaixo da banca, certa feita foi advertido por papai:
- No dia qui eu sonhá qui você tá dando cachaça a Ruberto meu fíi; nunca mais compro carne a você...
Num sabia êle; qui era eu quem levava Vicente prá “carrumbamba”!... No auditório da Rádio Bóiburema, dificilmente eu perdia, quando tava prú lá, o Forró de Zé Lagoa, que era o sardoso cumunicadô Rosil Cavalcante, onde conheci meu tombém sardoso e querido amigo e paricêro, Elino Julião. Na loja duis passaríin, seu Bastos, sempre tinha um tira gôsto deferente todo sábo... O Cardo de seu Ferreira e de Dona Nenzinha, pais de Rubão, qui todo sábo tá tocando seu violão lá no Bar de seu GG, na Praça Augusto Leite; era “parada obrigatóra”... No bairro Santo Antôin, o Bar do Cuscuz; in Zé Pinhêro, a Galinha da Nina; in Bodocongó, o Bar de Santos e a Cabana do Peba. Quage in frente à Praça da Bandêra, Tonhíin da Cabeça de Galo; no Serrotão, a Boate Eu Transo Ela Transa... No Beco duis Bêbum, perto da Rodoviára Véia, a Sáuna do Curisco, onde eu cunhincí seu Vavá, o cantô Genival Lacerda. Nais Bunina, a bomba de gasolina de seu Antôin Duarte, a Carne Assada do Manoel, o Bar da Moela, a “Unidade Moreninha” e mais uma ruma de beréu. Na Índios Cariris; quando papai já tinha a Veraneio, mais o sardoso cumerciante, seu Messias Braga e ôta “peça rara” da Oficina de Seu Dão Silveira, o mecânico Mané Gama, nóis tentava acabá cum a cachaça qui ali existia. No Cruzeiro, o Café Diamante, do seu Macêdo, pai do cantor Capilé; que era vizinho de propriedade de meu pai. E, fazendo essa viagem ao passado; me alembrei de uma acuntecença no Açude Véio, um duis Cartão Postá da cidade. Me foi contado pelo iscritô Rui Vieira, apusentado do Banco do Brasil, e tá no seu livro chamado “Baú de Putaria”... Prá quem num sabe ô num se alembra, o Açude Véio, nuis ano sessenta, teve quage dois terço aterrado “in nome do pogréssio”... Antes disso, quem vinha do Catolé para a Maternidade Elpídio de Almeida, atrevessava o açude numa canoa, da quá o “canoêro, cego de um ôio”, tirava o sustento. Um dia, o canoêro, qui já era cego de um ôio; pegô um passagêro “cego duis dois”... No mêi do açude, num “ridimunho brabo”, a canoa cumeçô a rodá; e o canoêro vendo tocha mode gunverná a bicha. Prá cumpretá, no mêi dêsse aperrêi todo, “caiu um cisco no ôio bom do canoêro”... O peste sortô um duis remo, butô a mão no ôio bom, e entre puto da vida e aperriado, iscramô:
- Prooonto!
Foi o bastante! O cego duis dois zóio num contô cunversa; sartô da canoa bem no mêi do “ridimunho”... E o causo é qui inté hoje se percura o côipo do “fela da gaita”!...