ENCONTRO COM A INGLESINHA

Para entender este texto tem que ler antes “PÃO DE AÇUCAR (the blond girl)”

Acho que depois do encontro no mercado escrevi meu poema mais bonito.

Sempre critiquei os ingleses, mas achava que aquela inglesinha... e aqueles olhinhos azuis...que só me lembravam a Lady Di e a Vanessa Redgrave tinham me inspirado.

Conferi o endereço na tirinha de papel de pão... era ali mesmo...

Um apartamento na Asa Norte... com um maço de flores em uma mão e uma garrafa de Chardonnay envolta no poema na outra...toquei a campainha.

Ela abriu a porta e aqueles olhos azuis me fitaram...

Abriu um largo sorriso amarelo...

Não... não era um sorriso sem graça...seus dentes é que eram amarelos mesmo...

Vestia uma camisa vermelha e bem larga do Manchester United... quando se virou estava escrito C. RONALDO....ela disse que adorava futebol e como sabia que brasileiros também gostam achou que seria uma bela homenagem.

Aí eu disse – Gostar, gostamos... mas não nessa hora e muito menos de um time estrangeiro...

Aí pra piorar descobri a razão dos dentes amarelos...entre os dedos carregava um enorme e fedorento charuto aceso...o que me veio à mente a história do Bill Clinton e a Mônica Lewinsky...se não me engano teve um lance erótico com um charuto...mas deixa prá lá...

Me lembrei de quando tinha uns dezessete anos e era o único da turma que não fumava...namorava a Gracinha...que realmente merecia aquele nome...eu estava apaixonadinho... até que um dia ela apareceu fumando...dizendo que era charmoso...que a Greta Garbo, a Rita Hayorth, a Marilym Monroe fumavam...

Eu disse que detestava cigarro...e dei um últimato... que ela escolhesse...o cigarro ou eu... soube muitos anos depois que ela havia morrido de câncer do pulmão aos 37 anos...nem sei se me senti vingado ou com dó...paciência...

Aí a Katty deu a última baforada e apagou o charuto...ainda bem...mas fiquei olhado para ela e só via na minha frente o Winston Churchil...

Aí me lembrei de uma frase do estadista britânico :”É melhor morrer em combate do que ver ultrajada nossa nação”...em assim sendo...decidi partir para o sacrifício e não fugir da luta...

Ela disse que não estava a fim de cozinhar, mas que eu podia escolher...um miojo caseiro ou então ela pediria uma pizza pelo telefone, entre as duas opções escolhi nenhuma...eu disse que não estava com fome...

Abriu a garrafa de vinho e me serviu em um copo de plástico descartável...pô... cadê o romantismo...cadê a elegância britânica?...é...mas isso não era o mais importante...era apenas um detalhe de um bestalhão romântico...

Quis me contar a vida dela...que havia sido casada com um capitão inglês que morreu na Guerra das Ilhas Falklands ( que os argentino chamam até hoje de Malvinas)...assunto esse que não estava me interessando muito...e que quando ficou viúva resolveu abandonar a nebulosa Londres...

Interrompi o relato quando ela começou a descrever detalhes das preferências sexuais do falecido... pedi pra ela colocar uma música...

Depois da segunda garrafa, sem nada pra “beliscar” ela já meio grogue começou a dançar uma música imitando o Fred Mercury...num relance tirou a camiseta do Manchester e mostrou o seu corpo...

Homem não entende muito de cor... mas asseguro que estava entre o bege e o cinza, acho que última vez que viu sol foi no Hyde Park lá pelo anos oitenta quando houve um único dia ensolarado em Londres.

Resolvi conferir de cima a baixo... o soutien, não era bem o que conhecia com esse nome, poderia ser chamado de porta-seios... almofadado...grandão e aparentemente com nada dentro.

A camiseta do Cristiano Ronaldo, tudo bem (aliás os portuguesas chamam “camiseta” de “camisola”...então procede)...mas precisava vestir a cueca do português também?... sacanagem... só me lembrei das calçolas da minha tia-avó secando ao varal quando eu tinha uns oito anos...e para piorar os “bigodes do gatinho”..ou seriam do Fred Mercury? aparecendo nas beiradas da...digamos... calcinha.

Plof...Plof...quando tirou o soutien foi o que ouvi...os dois gêmeos..que não eram univitelinos, pois um era bem maior que o outro...bateram no meio da barriga...

Num relance...rebolando feito o Fred Mercury...tirou a... vai lá...calcinha... e quem estava lá?...o famoso “El Comandante”...o revolucionário cubano Fidel Castro...com sua enorme barba que não é aparada desde o tempo da Sierra Maestra...

O que eu via na minha frente... na imaginação?

O Cristiano Ronaldo, o Bill Clinton, o Winston Churchill, o capitão inglês falecido, minha tia- avó, Fidel Castro e por último o Fred Mercury que era a única figura que mais de assemelhava a uma mulher, não fosse o bigode.

Consegui me desvencilhar do abraço “dos acima citados” e saí correndo, enquanto ela gritava: “Come back my dear”

Juro que nunca mais ponho os pés no Pão de Açúcar, nem passo perto de qualquer Thomas Jefferson.

Wilson Pereira
Enviado por Wilson Pereira em 03/02/2010
Reeditado em 03/02/2010
Código do texto: T2066736