Narrativa

Ouvi no rádio sobre uma peça teatral, ou espécie dela, um "stand up drama", uma história mais ou menos assim:

A personagem era uma mulher contanto sua vida. Vivia esquecendo as coisas. Desde criança. Perdia as bonecas. Os brinquedos.

Um dia, na sua infância, entre as meninas era moda usar na escola um casaco que acompanhava um pequeno chapéu a título de acessório.

E, febre que era tal casaco com o chapéu, a menina insistiu para a mãe que lhe comprasse. A mãe, sempre relutante, insisita em não comprar porque a menina certamente perderia o chapéu. A menina insistiu, insistiu e insistiu até que a mãe finalmente lhe comprara o tal casaco.

No primeiro dia que usou o presente, na volta da escola, ao chegar em casa deu-se por falta do chapéu.

Imediatamente subiu para o quarto e guardou o casaco no armário.

Quando desceu as escadas, viu seu pai sentado na poltrona, e este lhe sorrindo ternamente disse:

- Querida, ponha o seu casaco novo e o chapéu para que eu veja como ficaste.

A menina foi ao quarto e voltou vestindo o casaco. O pai, em sorriso ingênuo, diz:

- Ponha também o chapéu querida.

A menina disse que o faria depois, porque o chapéu estaria guardado.

Nisso, o pai se levantou e caminhou em direção a menina lhe desferindo um forte soco na cara.

A menina foi arremessada até a parede tamanha força do murro.

A mãe, ao ouvir o estrondo, correu até a filha, desesperada, perguntando aos gritos ao marido o que teria feito.

O pai, então puxou o chapéu do seu bolso e em olhar fixo para a menina falou:

- Isso é para tu aprenderes a não mentir e não mais perder tuas coisas.

Toda história se passa em primeira pessoa e a personagem termina a peça assim:

- O que meu pai me ensinou com aquela atitude naquele momento, enquanto eu sentia pela primeira vez o gosto do sangue na garganta, não foi eu deixar de perder as coisas, mas sim nunca mais confiar no doce sorriso dele.