PÃO DE AÇUCAR (the blond girl)

Calminha, não é um encontro romântico no famoso cartão postal do Rio.

É que eu e o Beto, velho amigo, escolhemos a lanchonete do tal supermercado pra periodicamente botarmos a conversa em dia.

Não ganho nada com o merchandising.

(por enquanto, diga-se de passagem...alô Abílio Diniz)

Nesse local temos as seguintes vantagens:

Bebidinhas e salgadinhos a preço de supermercado... claro né?

Nenhum garçom para você ficar chamando e ele fingir que não te vê.

Ar condicionado.

Musica ambiente bem baixinha.

E “last but not least”…as passantes.

(Não é pedantismo de minha parte, escrevi em inglês por um motivo que logo, logo vão saber).

- Tudo bem, cara?

- Tudo ótimo, Beto.

- Qual a pauta do dia?

- Tem muitos assuntos pendentes, vamos falar primeiro dos seus escritos...e aí... me conta...

- Rapaz, tenho me divertido bastante...agora dei de implicar com as “não loiras”

- Explica... não entendi

- É que comecei escrever textos engraçados e românticos onde só entram loiras e as “não loiras” querem me pegar de pau... morenas, mulatas, negras, ruivas, japonesas...

- Não acredito...guenta as pontas um pouquinho...olha só aquela gatinha.

- Tem família grande... pode ser marido, filhos, pai mãe, irmãos, sobrinhos, mas a família é grande.

- Ué, como você sabe?

- Olha o carrinho de compras, alguém que mora sozinha compra uma melancia inteira? ... e um saco de arroz de 5 quilos?.

- Pô mas você é mesmo observador, nem tinha notado...e aquela outra?

- Preguiçosa.

- Essa não...como você sabe?

- Olha no carrinho...pizza pronta, nuggets, suco em caixinha, enlatados...se ela te convidar pra jantar é capaz de servir um miojo.

- E aquela outra...bonitinha não?

- É sim....se você quiser ter dor de cabeça...

- Explica...

- Olha no carrinho...um garrafão de “Catafesta” branco doce...

- Caraca...mas você é mesmo um PhD em voyeurismo...

- E aquela loirinha na gôndola de vinhos? Acho que está em dúvida qual vinho levar...deve ter um encontro romântico.

- Nada disso, essa é sozinha.

- Ah não...bonita daquele jeito...tem jeito de estrangeira... parece que acabou de tomar banho...ainda tá de cabelo molhado, bermudinha, chinelo de dedo...

- Olha no carrinho...a porção de arenque defumado é mínima, só dá pra um...só uma fruta do conde...um mamão papaya...duas bananas maçã...algumas porções de verduras... uns dois pães no saquinho branco...guenta aí que eu vou lá como quem não quer nada...vou investigar mais....

- Hi...(ela começou o diálogo)

- Oi, tudo bem?

- Você entende de vinhos?

- Quase nada.

- Eu queria saber qual o vinho melhor pra acompanhar um peixe.

- Os experts dizem que o melhor vinho é aquele que agrada seu paladar.

- E qual agrada o seu?

- Pode ser um Lambrusco Bianco, um Chardornnay ou um Sauvignon Blanc...me diz uma coisa...você é estrangeira?

- Sou inglesa...moro há muito tempo no Brasil mas ainda tenho sotaque...é difícil perder...por mais que eu me esforce...

- Faz o que?

- Sou professora de inglês na Thomas Jefferson, e você faz o que?

(nota interrompendo o diálogo...aqui está a explicação do uso da frase em inglês acima)

- Sou geólogo e escritor amador... se você me permite gostaria de escrever algo sobre esse encontro...não vou colocar seu nome, pois nem sei...

- Kathleen Moore...Katty...pode colocar meu nome verdadeiro... desde que não escreva nada pornográfico... mas tem uma condição.... me passa o texto pra eu ler antes, ok?

- Claro, se você não aprovar, não publico...

(Pegou uma caneta na bolsa e escreveu algo em uma tirinha de papel rasgada do saco de pães... eu achei muito interessante ela não ter cartão de visitas)

- Sexta feira eu te passo o texto

- Ok...valeu também a dica do vinho...nós ingleses entendemos de whisky e cerveja mas somos analfabetos em matéria de vinho...see you!

- by...by

- E aí cara, como foi o papo

- Legal...a loirinha é inglesa...simpática...olhos azuis como o céu...tava cheirando a sabonete...de cara lavada...do jeito que eu gosto...

- Chiiiiii...me lembrei...o mais velho vai levar a namorada em casa pra gente conhecer...vamos fazer o seguinte...amanhã neste mesmo bat-horário? Preciso te falar da Dilma

- Nem pensar...política é assunto proibido...

- Não cara...esqueceu que a minha mulher se chama Dilma também?

- Caraca...é mesmo... é que a gente só chama ela de Didi...ela é brava que nem a outra, né?

- Eu que o diga...então té amanhã

- Tchau...dê lembranças à Dilma...corre senão vai dormir no sofá...deixa que hoje eu pago.

Quando estava pagando a conta, a Katty no outro caixa sorriu, apontou para três garrafas de Lambrusco no carrinho e pude entender seus lábios falando: “for next Friday... I’m waiting for you”...

Ainda bem que meu inglês dá pro gasto... resolvi ler o que ela havia escrito... não tinha e-mail...nem telefone...só o endereço...

Wilson Pereira
Enviado por Wilson Pereira em 02/02/2010
Código do texto: T2065178