Pique de Esconder
“De que vamos brincar hoje?”
“...maria-mariola...corre-cutia...amarelinha... bola-na-parede...cadeirinha-de-fon-fon...
barra-manteiga...passar-anel...o-que-é-o-que-é...”
De nossas brincadeiras de infância, o pique de esconder era o preferido. Quando começava a escurecer, a meninada já estava de prontidão no Beco. E logo iniciávamos o esconde-esconde. Não precisava proceder ao sorteio para decidir quem seria o pegador. Sempre havia um voluntário para começar. Cada um tentava arranjar um lugar menos manjado, um esconderijo mais estratégico, enquanto o pegador ficava ameaçando-nos de sair para a procura, com o rosto escondido nos braços, fingindo que não estava olhando para ninguém. Era só terminar a contagem até o número convencionado e já dizia: - “trinta e um de janeiro, cada um no seu poleiro. Eu já vou!” E ele saia em disparada, tocando com a mão aqueles mais incautos e menos escondidos. Que correria para não sermos apanhados. Para ficarmos a salvo da perseguição, tínhamos que alcançar o pique sem sermos vistos pelo perseguidor e gritar: - Um, dois, três, pique. Na rodada seguinte, o pegador continuava sendo o mesmo, se não conseguisse pegar alguém ou, em caso contrário, ficava aquele que primeiro fosse visto. O tempo “voava” para nós! Era com pesar que ouvíamos o “sinal” de encerramento da sessão:
- “Meninos, vamos rezar o terço!”
Nessa hora, cada um corria para sua casa, com o corpo suado, mas com a alma leve e feliz.
E nós já ficávamos de joelhos na sala, com posturas piedosas, prontos para o terço iniciar.
- “Mas está faltando o Bonifácio”, disse, uma noite, o meu pai.
Voltamos para a rua que já estava deserta. E, em vão, chamávamos pelo “Boni”. O jeito era ir de porta em porta à sua procura. E dele ninguém dava notícia. Até na “rua de baixo” tentamos a busca. Como ele sumira assim de repente?!
O jeito era procurá-lo dentro de casa. E fomos de quarto em quarto. E debaixo de uma cama, bem escondidinho, foi encontrado o Boni, dormindo a sono solto. Êta Boni!...