Planeta Haiti
Há muito tempo queria versar sobre esse tema. Mas como um grande lerdo, esperei até que mais uma catástrofe voltasse contra mim a espada da hipocrisia.
Em toda a Terra, essa mesma alma feminina da natureza que não sabe se defender, mas sabe bem se vingar, a singularidade dos desastres se faz ver: são enchentes, deslizamentos, terremotos, tsunamis, vulcões raivosos, entre tantos.
Porem nossa cegueira mais covarde que preguiçosa alimenta nossa apatia.
O Planeta Haiti, tem políticos genocidas. Tem drogas à vontade, pedófilos, estupradores, filhos matando pais, miséria explicita e promessas de mudanças.
Mudanças sim. Não as prometidas e até talvez as profetizadas por várias religiões. E o óbvio do latim que nos ensina que religião significa religar-se é a maior das profecias: o homem encontrou finalmente seu destino, “ligar-se intimamente às conseqüências do que faz e fez através da história”.
Sem a pieguice das frases prontas de fim do mundo ou que o inferno somos nós. Meus queridos e meus odiados, tenham certeza, nós ainda não conhecemos o inferno.
Conheceremos quando nossas casas estiverem desabadas, quando nossas filhas forem estupradas, quando encontrarmos parte dos corpos de nossos familiares espalhados. Quando tivermos que matar por um gole d’água e outras cositas mais.
Hipócrita sou eu que nem vergonha tenho de publicar isso. Nada vai mudar não é? Talvez um ou outro leitor fique corado de vergonha, ou nem leia tudo de tão “chato”.
Perdão pela raiva e despreparo com que me expresso.
Desejo a todos nós um excelente inferno. Além de péssimo escritor, sou técnico da Defesa Civil e brevemente serei convocado a ir ao Haiti me ingressar na equipe de ajuda humanitária naquele País.
Vou sem medo, lá eles sabem o inferno que enfrentam. Aos que ficam, aguardem aí, silenciosamente. O Planeta Haiti tem um presentinho guardado pra cada um. E a entrega não tardará a chegar.
Wellington Cruvinel
Uberaba, 14 de janeiro de 2010