Milagres acontecem

Desde os primórdios da juventude, Leonildo comportou-se com acerto. Trabalhador e honesto, cumpria suas obrigações de cidadão, filho, irmão e amigo, com lealdade. Também era estudioso; aos dezoito anos já cursava uma faculdade em uma das mais prestigiosas universidades do país. Seria médico-cirurgião ao completar a vigésima quinta primavera.

Leonildo casou-se aos vinte e oito anos, como havia planejado. A eleita fora a jovem Marta, menina prendada, de bom procedimento moral, responsável e inteligente. Era a última de uma família de cinco pessoas: o pai, a mãe, o irmão e a irmã, de quem usurpou o titulo de caçula.

Ambos tinham a mesma idade e os mesmos ideais: vencer na vida.

Casados, ainda sem filhos, trabalhavam em suas atividades; ela também fizera medicina, especializada em cardiologia. Seu consultório cumulava extensa lista de pacientes, e nos melhores hospitais da cidade parte do seu tempo era disputado em virtude de suas habilidades e conceito profissionais.

A vida lhes sorria às mil maravilhas!

Casa confortável, espaçosa e mobiliada a gosto, sem parcimônia, carros de luxo, últimos modelos, viagens internacionais em período de férias, faziam a alegria do casal, assíduo frequentador dos melhores restaurantes da cidade.

Faltavam-lhe apenas filhos. Um ano após o casamento corrido com pompa e circunstância, o casal recebeu em casa o primeiro herdeiro. O primogênito nasceu perfeito, envolto em grande sentimento de amor e felicidade.

Dois anos depois de nascido o pequeno Rubens, chegou a Isaura, graciosa princesa de olhos negros como as “asas da graúna”. Ambos os filhos do casal vieram competir com a beleza da mãe, vaidosa quanto a sua apresentação pessoal, mas de coração quebrantado pelo forte amor aos seus semelhantes.

O tempo corria e a folhinha do calendário passava para justificar os dias presentes e evidenciar o futuro da família.

Menos de dois meses do nascimento de Isaura, foi diagnosticado que a criança nascera com atresia biliar, anomalia decorrente do estreitamento ou da inexistência dos canais biliares, responsáveis pela drenagem da bile para o intestino. A tristeza do casal e de todos os demais componentes do clã, avós e tios, principalmente, superou, em muito, os momentos de felicidade vividos até então.

Aos quarenta e dois dias de nascida, a garotinha sofreu a primeira cirurgia no Hospital Sírio Libanês, em São Paulo, para implantação de canais biliares artificiais. Sem melhoras, um ano e dois meses depois submeteu-se a transplante do fígado, cujo doador foi o pai que lhe forneceu quarenta por cento do seu órgão hepático.

Durante quase cinco anos, a pequena Isaura e família viveram momentos de incerteza e sofrimento. Ela, de muito padecimento. Os gastos gigantescos e a renúncia de rendimentos financeiros por parte de Marta, que suspendera o exercício profissional para cuidar da filha, somaram-se a tudo o mais que enfrentaram por todo esse tempo.

Por quase cinco anos, a criança padeceu do problema. Durante dois anos foi alimentada por leite especial, por sonda nasogástrica, cuja propriedade era, depois de nutri-la, levar a substância diretamente ao intestino, sem processá-la no estômago.

Hoje, depois de várias cirurgias, Isaura, agora com cinco anos e dois meses, curte a felicidade de sentir-se curada, pela graça e poder de Deus, a quem a família recorreu em todos os momentos.

A história triste de Leonildo e Marta não parou por aí. Há oito meses, seu primogênito foi acometido de câncer da glândula supra-renal e atualmente se encontra em tratamento do mesmo hospital que cuidou da irmã. Está na última fase da aplicação de quimioterapia, com esperanças de cura, graças ao bom atendimento médico-hospitalar recebido há sete meses, depois da cirurgia para extração do tumor.

Todaiva, o principal, o único e verdadeiro médico a permitir-lhe a cura tem sido o Senhor Jesus. Seus pais, avós e tios estão certos de que as duas vitórias cabem a Deus, que tudo pode e a todos fortalece.

Louvado seja o Seu santo nome!

Esta história é verdadeira.

Os nomes dos pais e das crianças foram modificados para poupar-lhes a identificação.

O autor desta crônica é o avô.