NATAL SEM LIMITES...

Prof. Antônio de Oliveira*

Aproveitando-se do Natal, uma comemoração de caráter religioso,

uma empresa comercial faz a seguinte propaganda:

Aqui a data mais bonita do ano chega antes.

Independentemente dessa sanha de inebriar, no sentido mesmo de tornar ébrio, embriagar, fascinar, arrebatar, hipnotizar, no sentido de subjugar com o olhar, seduzir, deslumbrar com o apelo consumista, “a humanidade se transfigura de súbito, neste dia extraordinário”, constata Cyro dos Anjos, que indaga acerca do Natal, com a sensibilidade de um observador perspicaz:

“Que elemento se introduzirá na essência das coisas para que tudo venha, assim, apresentar uma face nova e desconhecida, e para que todos os seres ganhem uma expressão especial, quase graciosa, de agitada felicidade?”

E conclui, em gran finale, bem à brasileira, sem neve nem trenó:

“As árvores se fazem mais verdes, e os pardais, como cantam!”

De repente... é Natal! Tudo parece Natal, tudo parece enlevar, não fora a fotografia gritante de uma criança silenciosa com o nariz espremido de encontro à janela de vidro de uma mansão, salivando sem provar e boquiaberta ante o fausto e o esplendor de uma opulenta e requintada ceia de Natal.

A Nextel fez uma propaganda, neste final de 2009, com a seguinte chamada encimando o retrato de Fernanda Young: “Um limite na vida não pode ser o limite da vida”. Não é que a gente torça o nariz para tantas pessoas que, como Fernanda, aos 17 anos pensou em se matar e se tornou bem-sucedida. Como constou de duas páginas em revista de circulação nacional, Fernanda Young virou escritora, roteirista, apresentadora e atriz e, ainda, posou nua aos 40. Continua o texto, com emulação: “Fernanda não quer saber de limites. E a Nextel também não.” Engraçado, o Natal, para os cristãos – e a festa é cristã embora paganizada –, comemora justamente o limite que Deus, O Ilimitado, se impôs, tornando-se homem, limitado. Pelo menos esta é a razão de ser do Natal.

Na vida há limites, sim, apesar de a gente entender o espírito da propaganda nextelina justamente na época natalina. Se a sociedade impusesse limite aos corruptos, não estaríamos nós pagando impostos a serem incorporados a todas as partes do corpo limitado apenas pelas roupas que cobrem dinheiro vivo, propina suculenta e acompanhada de oração em grupo agradecendo a “bênção” recebida, certamente, e sem limite, pensando em sucessivas doses de pacotes de bondade do invocado Pai Eterno. Enfim, sem limites... os filhos extrapolam, e os assaltantes tomam conta de todos nós: – Opa!... meu bolso!...

“Fernanda não quer saber de limites. E a Nextel também não.” Que limites? Mas sabes o que não deve ter limites? O amor, o espírito de fraternidade. A medida de amar é que é sem medida. Ama o próximo como a ti mesmo: essa, a referência do Natal, e sem limite. E a criança com o nariz no vidro, hein?!...

*Coordenador e Supervisor da Consultoria Acadêmico-Educacional (CAED). Técnico em assuntos educacionais há 30 anos, com experiências no serviço público e na atividade privada. Mestre pela Universidade Gregoriana de Roma. Realizou estágio pedagógico em Sèvres, França. É graduado em Estudos Sociais, Filosofia, Letras, Pedagogia e Teologia. Pesquisador e consultor, presta assessoria, dentre outras instituições, à ABMES, Associação Brasileira de Mantenedoras do Ensino Superior, sendo responsável pela montagem do Anuário de Legislação Atualizada do Ensino Superior. Ministra também cursos de legislação do ensino superior.

aoliveira@caed.inf.br - www.caed.inf.br

fernanda araujo
Enviado por fernanda araujo em 25/12/2009
Reeditado em 30/12/2009
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