A diferença entre Lula e eu
Nasci em 1941 e Lula em 1945. Minha mãe, como a do presidente, nasceu analfabeta. Meu pai, também. Inclusive eu. Meus avós, tios e toda minha parentela tiveram o mesmo destino. Não foi apenas o caso da primeira mãe. Recorro a esse entendimento equivocado de Lula, para mostrá-lo despreparado para o exercício do importante cargo que exerce. Ou seria possível, em Pernambuco, a pessoa já nascer alfabetizada? Que bobagem, senhor Luiz Inácio!
É possível que haja alguma semelhança entre Lula e eu. Espero que o leitor seja sábio ao cotejá-la. Somos ambos nordestinos. Eu, da Paraíba; ele, pernambucano. Nossas famílias tiveram sorte semelhante: eram pobres. Lula foi criado por pai e mãe, apesar dos percalços e da cachaça "mardita" que o Aristides bebia, até manifestar-se, como diz seu ilustre herdeiro, violento com a esposa e os filhos. A verdade talvez seja menos dramática.
No meu caso, fiquei órfão de pai aos seis anos de idade. Pobre, fui educado por minha mãe, aprendiz de costureira. Somente vi a sorte me sorrir em futuro longínquo.
Ainda menino, acompanhado da família, Lula mudou-se para São Paulo. Viajaram em "pau de arara", um dos principais transportes daquele tempo, desprovido de boas estradas e de raríssimas linhas rodoviárias e aéreas, principalmente no nordeste. Viajar, desconfortavelmente, em cima de um caminhão, apinhado de gente, não era, portanto, sinal de pobreza, e sim uma necessidade de locomoção, pois, os meios existentes não ofereciam melhores opções.
Eu emigrei dentro do próprio estado. Fui com a família para Campina Grande, cidade destacada por sua pujança econômica. Fugimos da pobreza e das incertezas futuras.
Ainda crianças, Lula e eu chegamos a cidades diferentes, sem futuro definido, desempregados e entregues à própria sorte. Ele tinha o pai, Aristides, bâbado irresponsável, mas que, de qualquer forma, provia o sustento da prole, por minguado que fosse. Para garantir a nossa subsistência, contávamos com os esforços de minha mãe, pedalando, dia e noite, uma velha máquina de costura.
Nossa casa era um casebre de três vãos, sem água encanada, abastecida do precioso líquido por mim, que o transportava em duas latas suspensas por cordas, presas a uma vara, quase tocando o chão, em virtude de minha pequena estatura. A distância de dois quilômetros era percorrida com esforço; os ombros doloridos sentiam alívio a cada período suportável. Não sei como morava o Lula, nessa época. Possivelmente, sem o conforto da água encanada. Esse sofrimento talvez seja desconhecido por ele.
O herói de muitos brasileiros não teve destino diferente do meu. A minha
vida, embora vitoriosa, não se compara a dele, hoje famoso e provavelmente riquíssimo. Se o filho, Lulinha, que ganhava setecentos reais por mês para dar comida aos macacos no zoológico de São Paulo, antes de o pai tornar-se presidente da República, e hoje é milionário, que dirá o sortudo em pessoa.
Assim vivemos Lula e eu, seus irmãos e os meus, na companhia de nossas esforçadas mães, ainda analfabetas. A de Lula, segundo suas próprias palavras, não sabia fazer o "ó" com um copo. Um exagero utilizado para sensibilizar as pessoas. Mestre em metáforas, conquista os mais despreparados intelectualmente, fazendo-os acreditar em sua eloquência marota.
As dificuldades financeiras eram similares às duas famílias. Comecei a trabalhar aos treze anos, transportando caixa no cocuruto, adaptável por ser nordestino. Lula iniciou a labuta diária tão cedo quanto eu. Depois de longa caminhada, tornou-se torneiro mecânico e eu bacharel em Ciências Contábeis. Trabalhei de dia e estudei à noite. Meu irmão mais novo formou-se engenheiro eletricista em uma das mais prestigiadas universidades do país, a Escola Politécnica de Campina Grande, na Paraíba. Lula não estudou. Tem ojeriza aos livros.
O ex-metalúrgico não padeceu mais do que eu. Sua vida não foi assim... tão sofrida, como diz o livro biográfico de Denise Paraná. É só ver as fotografias da época, expostas no compêndio-propaganda, para confirmar a verdade. As fotos ali expostas revelam uma vida diferente, menos castigada, o oposto revelado por Denise e pelo biografado.
Escrevo esta crônica, cujo título me parece adequado à nossa comparação, para alertar os leitores quanto ao apressado procedimento de se elevar, às alturas, uma pessoa sem méritos ou de merecimentos exageradamente fabricados por marqueteiros, pela mídia oportunista e por bajuladores de plantão. Todos, motivados por interesses escusos.
Se alguém venceu com méritos, não foi o Lula. Eu também não mereço considerações elogiosas pelo esforço empreendido para enfrentar os obstáculos cotidianos e as agruras de uma vida orfão e sofrida. Chguei lá, por conta dos estudos que faltaram ao presiente.
A verdade me credencia a citar passagens de minha vida pobre, mas vitoriosa, sem riqueza ou regalias imerecidas. A verdadeira trajetória de Lula, ex-retirante, ex-metalúrgico e presidente da República, talvez não mereça a mesma fé. Que o diga a escritora Denise Paraná, autora da biografia transformada em filme, cujo título imerecido – Lula, o Filho do Brasil – afronta a nossa nacionalidade. Considerando as inverdades e fantasias ali publicadas, o povo brasileiro exige a devolução do título usurpado.
Concluo, afirmando: Lula e eu somos diferentes. Eu sou mais eu. Ele, uma figura de ficação, criada por intelectuais vermelhos e pela imprensa oportunista, para satisfação de um povo despreparado, desmemoriado e ausente.
Ao cotejar as nossas histórias, o leitor verificará a diferença.