MARIA ARCANJA.

... Olha a Maria Arcanja aí gente...Dscalça e sentada naquela calçada fria e tão suja quanto ela. Suas pálpebras de tão pesadas quase não se erguem mais. Está inerte, pensativa...Pensativa, ou esquecida? Sim, esquecida. Esquecida do presente, mas presa ao passado. Não sabe quantos anos têm, mas se lembra quando tinha dezoito, sim, sim, se lembra muito bem. Era bela, vaidosa, dengosa... Cabelos longos e negros; Corpo perfeito, pernas torneadas... Muitos cobiçavam e disputavam um sorriso seu.

Nasceu e criou-se em uma pequena cidade do interior Baiano. Seus pais eram humildes agricultores. Não tinham posse, mas tinham honra. Jamais deveram um tostão a ninguém. Arcanja era filha única, por isso gosava plenamente de todo o carinho e atenção que seus pais podiam lhe dar. Mas ela não era feliz. Não gostava daquele lugar.Sonhava em algum dia ir embora Dalí para nunca mais voltar. Ansiava por uma vida melhor. Tinha esperança de se apaixonar, casar e viver feliz para sempre. Haveria de conhecer seu príncipe encantado, - Dizia-

Um dia ele apareceu. Chamava-se Getúlio. Era forte, bonito, falava bem, vestia paletó engomado e usava perfume Francês. Era novo na cidade. Havia chegado recentemente de uma cidade vizinha.

E foi naquela bela tarde que ele passou por ela montado em seu vistoso garanhão. Quando a viu parou, desmontou, a cumprimentou,beijou sua mão e olhou em seus olhos, pronto! Foi o bastante! Naquele instante soube que ele era o homem com o qual sonhara toda sua vida. “Candinha”, assim ele a chamava.

Há cada dia que passava ela se encantava mais por ele. Contudo, havia um problema, seu pai não aprovava o romance. Dizia que era um sem vergonha. Corria um boato de que ele desonrava as moças e as abandonava. Seu pai queria mesmo era que ela se casasse com José de Arimatéia. Aquele sim, era homem direito, trabalhador. Tinha boa intenção e gostava dela-Sustentava-

Mas ela não amava o Arimatéia. Achava-o chato e igual a todos Dalí. Amava mesmo era o Getúlio. Não acreditava no que dele diziam. Era inveja dessa gente. – Pensava-

Em uma noite não resistindo aos seus encantos, entregou-se a ele de corpo, alma e coração. Estava feliz. Ele prometera casamento.

Mas logo depois começou o seu dramateve início: O Getúlio foi embora sem deixar vertígios.Deixando-a arrasada e com um filho no ventre. Foi uma tragédia! Um escândalo! Aqueles que a admiravam, zombavam dela. Todos cochichavam quando ela passava.

Sua mãe morreu de desgosto. Seu pai deu pra beber sem parar e mergulhou no ostracismo. Sua vida que antes era tediosa, mas tranquila, agora tornara-se um inferno.Não se cabia mais dentro daquele lugar, então tomou a decisão de ir para a capital.

Com uma mala na mão, um filho na outra e sem saber para onde ir, Maria Arcanja chegou à cidade grande.

Sua ingenuidade foi a principal causa de sua destruição. Todos se aproveitaram dela. Conheceu muitos homens, mas não amou a nenhum. Todos apareciam com cara de Getúlio. prometiam cuidar dela, mais depois iam embora deixando-lhe mais um filho. Teve tantos... Alguns morreram, outras delinqüiram... Só um deu pra gente de bem, o Pedro. Puxou ao avô e é um bom pedreiro. Mas tem vergonha dela.

Maria Arcanja trabalho em muitas coisas, foi faxineira, vendedora ambulante, babá, atendente de bar e, por último, prostituta.

Teve que largar o serviço porque o que ganhava não dava nem para pagar o quarto em que morava. Estava velha, acabada e seu corpo já não era atrativo. Pobre Maria Arcanja. De moça bonita do interior, a farrapo humano na capital. Vive nas ruas perambulando. Espera apenas a morte chegar para acabar com seu sofrimento. Enquanto isso não acontece sobrevive da solidariedade humana, aquela mesma que a levou àquele fim, - Desabafa-.

Francisco Piedade
Enviado por Francisco Piedade em 21/12/2009
Reeditado em 30/12/2009
Código do texto: T1989078
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