QUAL O SEGREDO DO NATAL?

Prof. Antônio de Oliveira*

Que espelho mágico nos seduz e nos faz mergulhar de ponta-cabeça no sorvedouro das luzes natalinas? Nosso imaginário viaja por paisagens de neve. Sem ingresias, emerge, vem à tona o lado light de quem, durante o ano, se manteve ruminando segredos, segredos por vezes prosaicos, domésticos, ou até de arquivo vivo, que não somos capazes de identificar nem nas pessoas de nossa intimidade, todas, verdadeiras caixinhas de surpresas. Cada uma, cada um de nós faz uso constante de uma burca invisível que embarreira, engazopa, abatuma o íntimo da gente. Freud explica, mas o diagnóstico é de Érico Veríssimo: “Todos somos um mistério para os outros... e para nós mesmos”. Uma dor de cotovelo é sintoma de um segredo que inocula todo o organismo. Escondido, o coração pulsa o segredo da vida. Ninguém conhece ninguém, nem a si próprio. “Não sei, não sabe ninguém por que canta o fado.” A planta encobre seu rebento, em segredo. A semente guarda o segredo do embrião. Um nascimento é precedido de meses de gestação da criança escondidinha na caverna do útero. Deus é o mais segredoso de todos os seres. Estaria ele escondido na ponta de um bisturi? Ou num louva-a-Deus em louvação? Ou plugado no faturamento dos natais? Ou... encarnado e habitando entre nós?

Todos os seres se escondem em segredos. Qual o segredo do vira-lata que lambe a lua no reflexo da luz noturna numa poça d’água, ou da doce andorinha que belisca miolinhos de pão? Um queijo Minas meia cura tem seu selo de qualidade em segredo: bem firme numa das mãos, dê-se-lhe um toque com a outra mão fechada e... ouça-se o som escondido do sabor que vem de dentro.

Um aparelhinho eletrônico comprime um montão de segredos. E tem senha. Para Monteiro Lobato o fogo que Prometeu roubara ao Olimpo e dera aos homens está completamente domesticado e preso dentro da cabecinha escura de um pau de fósforos. Cercados de prodígios, deixamos por instantes, na areia da praia, a marca de nossos pés descalços ou construímos castelos de areia. Vem uma onda, depois outra, e lá se vai a pisada, ou o castelo de areia volátil, sem garantia estendida. O mar não foge. Apenas recua para enxaguar nossa vaidade, diluí-la num dilúvio de ondas, sem chance para quem vai na onda: “Ó mar salgado, quanto do teu sal / são lágrimas” de... fundos segredos.

Por falar em mar, mar lembra praia, praia lembra pouca roupa. Mesmo sem apelar para o nu gimnosofista, desde o pecado inicial de Adão e Eva escondemos, ocultamos, encobrimos, maquiamos nossa verdadeira identidade.

Repudiando excessos, como consumismo e imprudência nas estradas, Natal é apelo ao desvendamento, à transparência. Pois continua valendo o enlevo, o arquétipo, o ícone divino. Até os presentes-surpresa que ganhamos do “amigo oculto” ainda trazem, na etiqueta, uma senha, em inglês (sempre mais surpreendente do que em português): Merry Christmas!... O que é o Natal, hein?! Desejo-lhe, sem segredo, um feliz Natal e, sem segredo, lhe pergunto:

– Diga lá, qual o segredo divino de uma manjedoura?

25/12/2009

*Coordenador e Supervisor da Consultoria Acadêmico-Educacional (CAED). Técnico em assuntos educacionais há 30 anos, com experiências no serviço público e na atividade privada. Mestre pela Universidade Gregoriana de Roma. Realizou estágio pedagógico em Sèvres, França. É graduado em Estudos Sociais, Filosofia, Letras, Pedagogia e Teologia. Pesquisador e consultor, presta assessoria, dentre outras instituições, à ABMES, Associação Brasileira de Mantenedoras do Ensino Superior, sendo responsável pela montagem do Anuário de Legislação Atualizada do Ensino Superior. Ministra também cursos de legislação do ensino superior.

aoliveira@caed.inf.br - www.caed.inf.br

fernanda araujo
Enviado por fernanda araujo em 15/12/2009
Reeditado em 15/12/2009
Código do texto: T1979938
Classificação de conteúdo: seguro