WHEN I'M SIXTY-FOUR

Em 01/12/2009, escrevi, um tanto impressionado: "Acabo de ler uma notícia de que o ator de cinema americano e galã Alec Baldwin diz que vai se aposentar em 2012 e que, com 51 anos, não é mais jovem, mas ainda pode fazer alguma coisa". Pelo que sei, não cumpriu a promessa. Enfim, não se pode fazer nada, cada um escolhe sua hora de envelhecer, porque o passar do tempo atua mais poderosamente por dentro do indivíduo do que por fora. Gostaria de saber como reagiria, a respeito, o genial arquiteto Oscar Niemeyer, à época, que praticamente emplacou os 105 anos de vida exemplar, trabalhando e produzindo como qualquer mortal. Minha avó, Aldina Ghizzoni de Matos, Vó Dina, dizia aos 96 anos:" Ai, que saudades dos meus oitenta anos!".

Bem, nem oito nem oitenta, concordo que 105 anos podem ser uma aspiração relativamente perigosa, boa apenas para alguns sortudos ou predestinados. De minha parte, a referência poético-musical dos primórdios da terceira idade vem dos Beatles: Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, talvez um dos mais influentes álbuns da história da música, que comprei em Paris no lançamento em 1967, com ênfase na faixa musical “When I’m Sixty-Four”, uma canção ingênua do Paul McCartney, que denota claramente o que aquela geração revolucionária entendia por velhice. Aliás, também reside nesse álbum uma das piores músicas que conheço: "Good Morning, Good Morning", prova de que ninguém é perfeito.

Já ultrapassei folgadamente essa marca histórica limítrofe ou de resistência existencial, que já foi símbolo de velhice para uma geração que não confiava em ninguém com mais de trinta anos. Aliás, aos 64, estava ainda em período de lua de mel do meu segundo casamento em curso, formalizado aos 62 anos. Acredito que, hoje, o “Sixty-Four” é mais lenda do que qualquer outra coisa: é o que tenho observado por aí, apesar de certos casos pouco estimulantes. Cada um, afinal, com sua história. Entendo os Beatles e a Jovem Guarda: tanta vitalidade e um forte espirito de contestação não poderiam prometer uma existência tão longa. E mais: ninguém imaginava tanto progresso e transformações. O que será do amanhã?

Que fique aquele Alec Baldwing falastrão de 2009 com a sua velhice precoce e com os seus “donuts”, porque, por estas plagas, a gente campeira continua tocando gaita e comendo costela de ovelha no café da manhã. E, com a devida vênia, ocorre-me citar o folclórico e badalado Ibrahim Sued, que os mais jovens não conhecem: “E à demain, que eu vou em frente. De leve. Enquanto os cães ladram, a caravana passa".