Nada

Escrever é uma atividade que sempre me fascinou. Quando não escrevo, leio. A leitura tem sido mais constante em minha vida, até por que escrever é dificil.

Alguns têm facilidade em se comunicar, dominam bem a palavra, expressam corretamente as ideias, manifestam fielmente os pensamentos, emitem opiniões com lucidez e expõem os assuntos de maneira eloquente, usando linguagem aprimorada e estilo elegante.

Outros, como eu, fazem da arte de escrever uma satisfação pessoal, despreocupado com a elegância das formas, às vezes tropeçando na gramática, maltratando o vernáculo e atropelando os fatos.

Escrever é uma forma de manifestação da palavra. Escrevo por prazer. Se não agradar, que me perdoem os poucos que se aventuram a ler os meus escritos.

Ultimamente, a minha produção literária tem sido de pouca monta. Escrevo sobre economia e política, principais assuntos do meu modesto conhecimento. Os políticos são os alvos escolhidos, pois a eles devo o entusiasmo criador que me anima a divulgar os seus malfeitos diários.

A biografia de certos homens públicos, atualmente, assemelha-se às folhas-corrida dos grandes marginais das facções crminosas que se multiplicam Brasil afora.

Os noticiários não me deixam mentir.

Hoje, quero escrever e não consigo. Não me vem nenhuma inspiração. Sequer concebo uma ideia, por mais singela que seja, para transformá-la em um texto qualquer.

O meu texto!

Desiludido, resolvo escrever sobre “nada”.

Segundo os dicionários Aurélio e Houaiss, “nada” significa coisa alguma; nenhuma coisa; de modo nenhum; o vazio. Traduz-se, também, como a negação da existência de algo; o que não é verdadeiro; o que não ocorreu; o que não existe.

No âmbito da criminalidade, porém, quando um político corrupto, um marginal comum ou de colarinho branco, flagrado em atos ilícitos diz “nada a declarar”, não quer dizer que ele, bandido, não tenha cometido algum crime, que não exista “nada” em desabono à sua conduta moral.

O “nada”, constante de sua declaração, apenas transfere a oportunidade de declarar o erro à justiça, de forma mais conveniente, orientada por bons e caros advogados.

Ao final, resulta mesmo em “nada”.

Provas insuficientes, falhas processuais, delitos promovidos por pessoas ricas, protegidas politicamente, não levam a “nada”. Nos dois primeiros casos, a Lei bem o diz; nos demais, a impunidade encarrega-se de levar os casos a lugar nenhum.

Ao “nada”, portanto.

Deus fez o mundo do “nada”. Lavoisier disse que “na natureza nada se perde, nada se cria, tudo se transforma”. E eu, que nada sei escrever, amargo esse infeliz momento, as mãos postas no teclado do laptop, aguardando um lampejo qualquer de inteligência e de inspiração, na esperança de produzir alguma coisa.

O meu texto!

“Nada” acontece.

Nenhuma linha, insignificante que se torne, para colorir de preto a tela branca do meu computador portátil.

Está difícil!