Crônicas de Sala de Aula; Neoliberalismo, Globalização e o Padre dos Balões

Estava eu ali naquela oitava série, duas aulas seguidas, manhã de segunda-feira, não importa, sabe aqueles dias em que se acorda com o pique total e gana de fazer valer cada minuto, "carpe diem".

Resolvi fazer uma breve revisão, enquanto caminhava pela sala, entrando e saindo dos pequeninos corredores que se formam entre uma

fileira e outra, divagava sobre as teorias que procuram encontrar o momento do surgimento do neoliberalismo, viajamos para a década de oitenta, dali fomos para o século XIX percorrer as trilhas do liberalismo, seguimos rumo aos séculos XV E XVI, período das empreitadas "navegalísticas", gosto de criar palavras.

Então através destes breves tours pela história fiz algumas ponderações, chamei a atenção para o fato de que hoje vivemos inseridos neste contexto neoliberal, onde a intervenção do Estado cada vez é mais reduzida, atentei também para o surgimento das ONGS.

Falei também sobre a era Reagan nos EUA e a geração de yuppies, marca registrada, foi aí que adentrei no lado social da coisa, ou melhor dizendo anti social, visto que o neoliberalismo acentua o "eu", a busca desenfreada pelo sucesso, o poder,a negação dos valores coletivos, mesmo que para isso pessoas arquitetem a morte de "colegas de trabalho" em disputas por cargos, isto ocorreu aqui no Brasil há pouco tempo atrás.

Comentei com meus alunos sobre uma notícia que li no jornal, onde em um dos muitos escritórios americanos, um homem teve um ataque cardíaco, nenhum companheiro de serviço notou, foi numa sexta-feira, ele ficou ali até a segunda na mesma posição com a cabeça pendida para frente como se estivesse dando um cochilo.

Obviamente ao chegarem no local de trabalho na segunda, ao finalmente perceberem o colega, era tarde demais, foi constatado que o mesmo havia entrado em óbito lá pelas 14:00 horas da sexta!

Esta é a expressão máxima de como as pessoas deixam de enxergar o outro, o individualismo.

Segui falando sobre a globalização, cultura massificada, padrões culturais assimilados e a necessidade de ser notícia que vivemos,

foi aí neste momento que um aluno falou: "professora aquele padre lá dos balões é um exemplo né, ele queria aparecer, sei lá, parecia que queria ficar famoso".

Aproveitei o exemplo dado pelo garoto para ressaltar também a importância de sempre estarmos aprendendo, estudando nos informando, pois o estudo pode ser o limite entre a vida e a morte.

Ficou comprovado que o padre não sabia utilizar o GPS, não havia aprendido como funcionava direito aquela inovação tecnológica, talvez se o soubesse, poderia ter repassado sua localização e quem sabe haveria chance de algo, na história temos que trabalhar com o "se" algumas vezes.

Então neoliberalismo, globalização e o padre que quis voar alçado por balões em uma aula de história tem tudo a ver.

Julia Lopes Ramos
Enviado por Julia Lopes Ramos em 16/11/2009
Reeditado em 16/11/2009
Código do texto: T1927272