Envelhecer, o grande desafio!
Aos treze anos, o jovenzinho está em transição da infância para a adolescência, encontra-se em fase de crescimento, se desenvolve sexualmente e inicia suas funções reprodutivas. Com mais alguns anos, ingressa na idade adulta, com todas as consequências da pessoa em sua trajetória para o envelhecimento.
Casei relativamente cedo; aos vinte e um anos. Constitui uma adorável família, representada pela esposa, a quem amo com todas as veras do meu coração, e por três filhos, igualmente queridos; o primeiro, do sexo masculino, recentemente completou quarenta e seis primaveras; as meninas já são detentoras de quatro décadas cada uma, afora o excedente anual dos dias que elas omitem, com é comum às mulheres. A idade do belo sexo é expressa com inexatidão matemática. Assim, mascaram o tempo real de existência vivida nesta terra de meu Deus.
Não pretendo, aqui, tratar da minha vida particular nem expor a esposa e “as crianças” a vexames públicos. Desejo falar sobre pessoas que já “dobraram o Cabo da Boa Esperança”, ingressando na “terceira idade”, categoria em que se encontram os idosos depois de ultrapassados os cinquenta anos. A primeira idade dá-se aos vinte e cinco, a segunda, aos cinquenta e a terceira, depois disso aí.
Por ser velho, idoso ou por ter ingressado na terceira idade há algum tempo, sinto-me “a cavalheiro” para escrever sobre esse tema. Pois, bem: Lamentavelmente, 80% dos idosos sofrem de preconceito contra a velhice no Brasil. 35% dos velhinhos declaram ter sofrido algum tipo de maus tratos, seja por ofensas pessoais, tratamento irônico, humilhação decorrente da idade avançada em dias, falta de emprego, ausência de medicamentos, apropriação indevida de seus bens, e até lesões corporais, esta última, um ato vil, de extrema covardia e desprezo humanitário.
Vinte e seis por cento das mulheres idosas jamais foram submetidas a exames ginecológicos, enquanto 42% dos homens da terceira idade nunca visitaram um urologista para avaliarem a próstata. A estatística demonstra dois aspectos a lamentar: Primeiro, a falta de assistência à saúde dessas pessoas, por parte do governo, pois é sabido que o pobre depende exclusivamente da rede hospitalar pública para cuidar dos seus males físicos; segundo, o desconhecimento sobre as doenças orgânicas que lhes acometem; a ignorância que os assola está refletida no analfabetismo de 49% dos idosos, dos quais, 23% declaram não saber ler e escrever o próprio nome.
Seis por cento dos velhinhos no Brasil não têm filhos. Isso poderá ser entendido como fator de ausência afetiva; sem filhos para cuidar, ficam à mercê de pessoas estranhas de quem passam a depender, nem sempre com o devido respeito.
Outrossim, os mais velhos poderão ser alvo de atos discriminatórios e de conflitos entre a geração mais nova, que se julga prejudicada por contribuir pesadamente para a aposentadoria do cidadão improdutivo, responsável por gastos cada vez maiores, decorrentes da utilização de medicamentos e de cuidados médicos constantes.
Noventa e dois por cento dos velhinhos têm alguma aposentadoria.
Quanto à assistência médica…
As doenças, as dificuldades motoras, a dependência física, tudo confirma que nós, homens e mulheres, chegamos à velhice. Alguns, privilegiados pela natureza ou por terem levado a saúde a sério, alimentando-se corretamente e exercitando-se com periodicidade recomendável, chegam a esse estágio da vida em melhores condições que outros.
Há, infelizmente, os que herdaram problemas de seus ancestrais, seguiram-lhes os caminhos tortuosos das doenças genéticas, e os que fizeram de seus dias uma libertinagem sem fim, transformando-os num jogo que lhes levaram à derrota; ou seja, a uma existência sofrida e dependente.
Mas a vida é bela! Mesmo com os sintomas acima mencionados, 48% dos idosos se declaram felizes e satisfeitos assim como vivem; os caminhos percorridos, as vitórias sofridas, as derrotas transformadas em aprendizagem marcante, a família constituída com amor …
Eu, particularmente, agradeço a Deus os dias que me restarão sob o Seu comando, Sua proteção, Seu beneplácito.
Aqui estou, Senhor, agradecido por tudo que me concedeste nesta vida: a juventude; o amor à estimada consorte, aos filhos, netos, genros e nora; e aos amigos queridos.
Agradeco-Te, também, pela velhice concedida, que desfruto desafiando o tempo.
(*) os percenuais mencionados foram obtidos em pesquisa realizada pela Fundação Perseu Abrano e o SESC.