Brasil que te quero próspero

Aos sessenta e oito anos, próximo de fazer sessenta e nove – não confundir com a expressão pejorativa tão em voga hoje em dia –, fui acometido de certa crise nostálgica. Minha repentina tristeza decorreu da falta de providências e de efetividade dos governantes, sobre aspecto econômico de grande significação para o Brasil: as ferrovias.

Para um país que deseja tornar-se potência econômica, esse fator de infra-estrutura é importantíssimo. Deve ser buscado obstinadamente, para que a circulação da riqueza não encontre empecilho na morosidade.

O transporte de bens e de passageiros por via ferroviária reduz o trânsito de veículos automotores nas estradas, propicia economia de manutenção do asfalto aplicado desonestamente, e minimiza os acidentes com vítimas humanas. Esse, o principal motivo.

O volume de produtos transportados ultrapassa os limites de análise econômica pertinente, o que não está sendo tratado nesta oportunidade.

O ideal seria que as ações visando à implantação do sistema ferroviário não demorassem muito, pois brasileiros como eu, no ocaso da vida, talvez não alcance a prosperidade trazida por esse antigo meio de transporte, hoje modernizado, eficiente e ágil. Essa não é a principal via do desenvolvimento econômico, mas, certamente, uma delas, aqui tratada simplesmente por ter sido escolhida como tema desta despretensiosa crônica. Quem sabe, depois, falarei de outro assunto, tão ou mais importante.

Prossigo sem digressões, rumo ao corolário da ideia inicial.

A partir de 1852, as estradas de ferro brasileiras foram implementadas com visão futurista e expansionista, capitaneadas por Irineu Evangelista de Sousa, empresário que viajou à Inglaterra para conhecer “in loco” a pujança da economia britânica, responsável pela Revolução Industrial.

Irineu voltou ao Brasil convencido de que o caminho a percorrer por um país como o nosso, essencialmente agrícola, à época, seria o da industrialização. Ele próprio tornou-se industrial. Posteriormente, foi contratado pela província do Rio de Janeiro, desejosa de possuir uma ferrovia unindo a praia da Estrela, na Baia da Guanabara, à Serra de Petrópolis.

A Baronesa, locomotiva fabricada pela Manchester, da Inglaterra, e assim batizada para homenagear a mulher de Irineu Evangelista, fez sua primeira viagem em 30 de abril de 1854, partindo da praia da Estrela para Fragoso, um trecho de 14,5 quilômetros. A bordo estavam o imperador D. Pedro II e o industrial Irineu Evangelista de Souza, agraciado, na oportunidade, com o título honorífico de Barão de Mauá, concedido por Sua Alteza Real.

Honra outorgada por méritos inquestionáveis.

Trago à lume a questão de nossas ferrovias, por terem sido vergonhosa e criminosamente desmanteladas e esquecidas por sucessivos governos a partir dos anos sessenta. Alguns foram responsáveis pelo desmonte irresponsável e interesseiro, enquanto outros não se dispuseram a ressuscitá-las ou a revigorá-las, salvando-lhe o patrimônio físico – trilhos, máquinas e edificações – que aos poucos foram consumidos pela ferrugem e a depredação decorrente do abandono a que foram submetidas. Poucas ferrovias escaparam desse destino mal-são, patrocinado pelas autoridades encarregadas de zelar por sua permanência econômica. E histórica.

Em 1889, o Brasil já dispunha de mais de dez mil quilômetros de ferrovias, e entre 1911 e 1916 foram construídos cinco mil quilômetros de linhas férreas. Os números evidenciam um crescimento lento, sabendo-se que hoje dispomos apenas de 29.706 quilômetros de trilhos, embora tenhamos chegado a 34.207 quilômetros. A diferença perdeu-se na ineficiência e no desinteresse do Estado. A propósito, tal falta de empenho teria sido motivada pelo apego escuso das autoridades brasileiras aos ganhos fáceis, e velozes em ajudar a indústria automobilística a pilotar seus veículos recheados de dinheiro.

Era o propinoduto operando em alta velocidade.

A rede férrea dos Estados Unidos, a mais extensa do mundo, tem 226.612 quilômetros. A Europa está revolucionando os seus trilhos com alianças entre os países da comunidade. E nós, com os nossos míseros 29.706 quilômetros de linhas mal conservadas e desassistidas quanto a adequado apoio operacional e logístico, ficamos na rabeira, próximo de países africanos.

As autoridades tupiniquins estariam propensas a aumentar a nossa malha ferroviária. O presidente da República disse, em discurso eleitoreiro, que até 2010 construiria sete mil quilômetros de linhas férreas. O ruim disso tudo, é que o presidente fala demais; chega até mesmo a contar com o ovo no c... da galinha; costuma apresentar seus projetos como realizações efetivas, ou seja, inaugura-os antes mesmo de elaborados.

O que fazer?

É o Brasil, subindo a ladeira.

Cansado.

Os trilhos de nossa economia poderiam estar mais azeitados se o trem que conduz a corrupção desmedida, pilotado por maus e desonestos maquinistas, tivesse freio.

Você acredita em mudanças?

Nem eu!