AFINAL, QUEM SOMOS?
Afinal, quem somos, aquilo que pensamos de nós mesmos ou a forma como os outros nos vêem? Creio que somos muitas personagens, todas as máscaras, mas guardamos por mais tempo o caráter do artista. Ninguém é absolutamente bom ou mau, inteligente ou idiota, bandido ou mocinho. Aquele político larápio pode ser um excelente chefe de família, assim como o mais honesto gestor pode ser um péssimo pai, um mau filho, um marido cretino. O problema é que muitas vezes nos achamos muito bons, com muitos direitos, além de pouco gratificados por nossos talentos e esforços: nossos credores são canibais insaciáveis, nossos vizinhos e colegas uns chatos e nossos superiores - se é que existem - uns incompetentes e ultrapassados como nossos pais, avós ou mentores.
Existem os inconformados, os ambiciosos sem limite, os sobreviventes de batalhas fictícias, que carregam na alma grande quantidade de feridas imaginárias: heróis das guerras alheias e das batalhas que não enfrentaram. Há, por outro lado, os mansos de espírito, que aceitam passivamente a condição existencial com ânimo mínimo para a luta. Há pessoas generosas, que carregam a cruz de Cristo e não são infelizes, assim como existem os afortunados que sucumbem ao primeiro tropeço, infelizes e queixosos. É grande a diversidade do espírito humano. Nosso código genético carrega, afinal, a história bíblica e de todas as civilizações.
Por que algumas pessoas são mais bem sucedidas do que outras? Por que, entre pessoas do mesmo nível, uns triunfam na profissão, no amor, na vida social e outros desandam? Conhecemos, todos, casos de gente inteligente, trabalhadora, simpática e que se afoga na amargura ou no mais estrepitoso insucesso. É espantoso como alguns desperdiçam oportunidades, afetos, recursos materiais. O que distingue os homens?
É claro que não sei a resposta, mas arriscaria afirmar que há dois fatores importantes nesta história: o autoconhecimento e a capacidade de autogestão, quer dizer, de autocontrole, de administração do temperamento e idiossincrasias. Quem não conhece seus limites, qualidades e defeitos, corre imensos riscos no projeto de vida. Aquele que não é capaz de administrar seus arroubos, veleidades e desequilíbrios, tem bilhete de primeira classe para o infortúnio profissional, afetivo, familiar e econômico. O aforismo grego "conhece-te a ti mesmo" é uma chave milenar para o bem viver. Por isto, a pergunta de início: quem somos? Qual a opinião dos familiares, dos amigos, da ex-mulher, da polícia?
Só perguntar já faz bem, pois convém suscitar a dúvida e evitar o excesso de certezas, conforme o bom e velho método cartesiano.
Depois, a própria vida dará a resposta.