Mentira

Zeca foi dirigente do PH2 – Partido do Homem Honesto – por muito tempo. Votou em candidatos da agremiação em todas as eleições nos últimos vinte anos. Amargou as derrotas com altivez, na expectativa de um dia ver a vitória da “esperança” sobre o “medo”.

Passados os anos, com o povo desiludido e revoltado com administrações públicas perdulárias e incompetentes, Zeca viu realizado o sonho de milhões de militantes do partido.

Sua própria aspiração.

A vitória tornou-se um fato embriagador. Todos os companheiros exultaram de contentamento. Inclusive Zeca, agora comandante de fato do Poder Central.

O desejo de melhoras econômicas e sociais, de renovação ética, de confirmação da honestidade – requisitos da esperança anunciada –, venceram o medo do eleitor, isto é, a dúvida que o assolava quanto à competência administrativa do PH2.

Zeca participou ativamente da indicação de correligionários a cargos públicos bem remunerados. Mais de vinte mil vagas foram preenchidas por fiéis militantes do PH2. Ministérios, secretarias, institutos, universidades, bancos e empresas públicas foram “administrados” com a clara intenção de arrecadar fundos para o partido.

Desejavam a perpetuação no poder.

E a melhoria das finanças dos “caciques” peagalinos.

Quanta gente!

O PH2 associou-se a diversos partidos. Formaram grande contingente de bandidos, dilapidadores do patrimônio público. Mensaleiros, semanalistas, diaristas, horistas, sanguessugas, vampiros…

Todos roubaram muito.

Em todo o tempo.

O tempo todo.

A toda hora.

Quando acusados, diziam-se inocentes ou perseguidos politicamente. Nunca admitiam a desonestidade comprovada por farta documentação.

Informações fantasiosas entupiam a mídia de informações sobre o desempenho do governo do PH2 e de seus aliados. Emissoras comprometidas com o surrealismo peagalino eram pródigas em repassar notícias, associando-se à pregação de falsos valores.

Intelectuais beneficiados com gordas verbas do Ministério da Cultura, jornalistas empregados em cargos fantasmas, e dirigentes de ONGS generosamente aquinhoadas com dinheiro público, defendiam o partido de robustas acusações.

Pouco ou nada comentavam.

O mais comum era contestar a veracidade das denúncias. Essa tática serviu para dissimular a nódoa que maculou indelevelmente o PH2.

Pena que o povo não lembre. Lamentável que o eleitor esqueça o mal causado às finanças do país. Triste vergonha para o homem verdadeiramente honesto.

De minha parte, saberei o que fazer. Votarei corretamente, contribuindo para alijar da política o desonesto, castigando o ladrão da coisa pública com o meu desprezo, elevando minhas preces a Deus para que salve a minha Terra.

Finalmente, sugiro a modificação da sigla PH2 para PHD, sem querer compará-la ao honroso monograma que distingue as pessoas por seu talento. Não. Não me refiro a mais alta graduação acadêmica de alguém, mas às iniciais das palavras: Partido do Homem Desonesto.

Êta, agremiação numerosa!