MÉDICO DE FAMÍLIA
Geralmente era bem velhinho e bastante experiente.
Morava pertinho da casa da gente e atendia em uma salinha na sua própria casa.
Quando necessário ia à nossa casa, atendia desde a avó até o recém nascido, em uma só consulta.
O exame era completo; arregalava nossos olhos, enfiava uma colher na garganta da gente pra examiná-la; apertava daqui, apalpava dalí, dava pancadinha com um martelinho no joelho, mandava dizer trinta e três várias vezes auscultando nosso pulmão.
Aos jovens receitava sempre Emulsão de Scotch, Biotônico Fontoura ou então uma colherada de óleo de rícino.
O pior, e que invariavelmente acontecia, era o diagnóstico de operar a garganta. Era como se todo mundo viesse com um defeitozinho de fábrica... e o “recall” era retirar a tal da amídala.
A operação era feita no próprio consultório e a compensação era poder chupar sorvete por dois dias...querendo ou não.
Aos mais velhos receitava canja de galinha, repouso e um remedinho pro coração.
Só se morria “de velho”; as pessoas tinham uma espécie de fusível que quando chegasse a hora queimava...puft.