A prata da casa

Não será por saudosismo, muito menos por esperança frustrada ou por revanchismo, que venho ao meu reduzido número de leitores, nesta oportunidade, discorrer sobre este assunto.

Situando-me a partir da segunda metade dos anos sessenta, na região Nordeste, lembro-me de estradas de terra esburacadas, lamacentas, de tráfego difícil e penoso. Lamacentas, sim, nas poucas vezes em que as chuvas mostraram-se generosas.

Por centenas de quilômetros, a viagem revelava-se cansativa. Os negócios que se pretendiam realizar em outras praças resultavam pouco lucrativos. O tempo de percurso entre uma cidade e outra onerava os custos do transporte. O excesso de consumo de combustível, as despesas com refeições e pousada e os gastos com peças de reposição dos veículos inviabilizavam os pequenos empreendimentos.

A economia da região, afetada negativamente por diversos fatores, principalmente pela carência de chuvas, que impediam a terra de produzir convenientemente, não conhecia o setor do “turismo”, hoje uma das principais, senão a principal alavanca do seu desenvolvimento.

A falta de boas estradas pouco estimulava os viajantes. Os raros turistas, à época, foram privados de conhecer as belezas naturais da região, suas praias aconchegantes, a culinária (mesmo a mais exótica) e seu povo espontâneo e hospitaleiro.

Lembro-me da rodovia ligando o alto sertão paraibano ao litoral do estado, asfaltada por um grupamento de engenharia do Exército. Foram 360 quilômetros de excelente trabalho.

A obra exemplar, extensa e durável, levou o sertão à capital e propiciou o progresso, a melhoria de vida do sertanejo, a comodidade do viajante e o surgimento de novas cidades; encurtou as distâncias, apressou o tráfego e integrou as comunidades rurais e citadinas.

Reconheço não ser da competência das forças armadas a construção de estradas, o asfaltamento e a sua conservação, como não seria atribuição sua edificar hospitais, escolas e presídios. Todavia, teríamos, dessa forma, a certificação de boa qualidade das obras, a baixo custo, resistentes ao tempo, sem a interferência maléfica de políticos aproveitadores, de empreiteiros apaniguados, também desonestos, corruptores e influentes no governo.

Ademais, seria a oportunidade de nossos militares aproveitarem melhor a estrutura física e operacional de suas instalações e equipamentos.

Admitindo como positiva a idéia, poderíamos concluir que a sua materialização levaria o país a somar capacidade, qualidade e disciplina; a diminuir custos, corrupção e má gestão da coisa pública; a multiplicar a infra-estrutura nacional e a sua riqueza, para, depois, dividir os benefícios com a população.

De verdade!