Curiosidades médicas

A ciência, esse conhecimento amplo, racional, disciplinado e metódico, adquirido pela reflexão e pela experiência, é uma extraordinária conquista da humanidade.

Todos os ramos da ciência são importantes. A medicina, porém, é a mais fantástica atividade exercida pelo homem. Reúne um conjunto de conhecimentos que são utilizados na manutenção da saúde, na prevenção e no tratamento das doenças. É a ciência de curar. Numa feliz contradição, provoca e elimina dores físicas, enquanto o paciente, curado na maioria das vezes, agradece ao mestre dessa ciência, que também é arte.

Li a obra do doutor Armando José China Bezerra, intitulada “Admirável Mundo Médico”, lançamento comemorativo aos quarenta e um anos de instalação do Conselho Regional de Medicina do Distrito Federal. Senti irresistível desejo de compartilhar com os amigos, para quem escrevo sem pretensões, preciosidades deste maravilhoso “Mundo Médico” em que viveram e ainda vivem boa parte da minha família: tios, primos, esposa, filha e genro.

O doutor Bezerra, nas palavras do médico Luiz Fernando Galvão Salinas, que prefaciou a obra, não teve a intenção de escrever sobre a história da medicina, nem de retratá-la cronologicamente. Pretendeu descrever “passagens pitorescas do admirável mundo da Medicina, cujas maravilhas superam, em muito, eventuais horrores”.

Não reproduzirei literal nem inteiramente os textos escritos pelo autor. Procurarei resumir dados interessantes, situando-os tão cronologicamente quanto possível, sem, todavia, desvirtuá-los.

Também não é minha pretensão desfigurar, com minha medíocre redação, as ricas e preciosas curiosidades médicas coletadas e descritas com tanto esmero pelo insigne autor.

São informações e constatações situadas nos primórdios da existência humana e nos fins da Idade Média.

Vejamos como ficaram:

Hipócrates, nascido no ano 460 a.C., na ilha de Cós, na Grécia, era filho e neto de médico. Viveu até aos oitenta anos e é considerado o “Pai da Medicina”. O Juramento de Hipócrates é o primeiro código moral e ético aplicado aos que exercem a medicina como profissão.

O diploma de médico foi instituído e regulamentado na Roma antiga, no terceiro século da nossa era. Seus portadores, para obtê-lo, obrigavam-se a apresentar atestado de boa conduta, fornecido por autoridades policiais. Não teriam acesso ao diploma de médico os estudantes que tivessem tirado férias prolongadas ou que frequentassem os famosos bordéis da época.

“O símbolo da Medicina consiste em um bastão no qual se encontra enrolada uma serpente. Originado na Mesopotâmia, tem na serpente o simbolismo da saúde, vez que a cobra mantém-se saudável e rejuvenescida em virtude da troca da pele. Esculápio, o deus da medicina, pai de Panacéia, a deusa da cura, e de Hígia, deusa da saúde, de cujo nome deriva a palavra higiene, para andar apoiava-se em um bastão como esse”.

Ao dissecar corpos de criminosos ainda vivos em prisões da Alexandria, Herófilo e Erasístrato – que viveram entre os anos 335 e 250 a.C. – contribuíram para o conhecimento da anatomia humana. Coube, ao primeiro, Herófilo, o título de “Pai da Anatomia”, e a Erasístrato, o de “Pai da Fisiologia”. Não existia ainda a anestesia. Imagine, leitor, o sofrimento cruel a que foram submetidos esses criminosos.

As dores, porém, foram poupadas à rainha Vitória, quando do parto do príncipe Leonardo. A soberana inglesa pediu ao médico que lhe aplicasse anestesia. A ordem contrariava o pensamento da época, segundo o qual, se os gritos da parturiente não chegassem a Deus, Ele não amaria o filho nascido. São coisas da realeza, que somente permitiu que os príncipes fossem vacinados contra a varíola, após testes realizados em criminosos e crianças órfãs da Inglaterra.

Os médicos assírios, em passado bem mais distante, pressionavam a artéria carótida até que o paciente desfalecesse e, portanto, não sentisse dor.

Em 1348, grande epidemia de peste abateu-se sobre a Europa, provocada pela picada da pulga do rato. Morreram 25 milhões de pessoas. As mortes chegaram a ser atribuídas aos judeus, que foram perseguidos, torturados e mortos por ordem do Papa Clemente VI.

A primeira transfusão sanguínea foi realizada em 1665, pelo médico inglês Richard Lower, em Oxford, utilizando o sangue de uma ovelha; Jesse Lazear morreu ao deixar-se picar voluntariamente por mosquitos infectados pelo vírus da febre amarela, imitando o escocês Patrick Manson que, por sua vez, permitiu que o próprio filho, trancado em um quarto, fosse repetidamente picado pelo parasito da malária; Michael Servetus foi queimado vivo por ter descrito a circulação pulmonar; os egípcios “acreditavam que as fezes contidas nos intestinos eram a matéria pecaminosa do organismo humano, que, acumulada, acarretaria a putrefação e a morte do corpo”.

São passagens realmente pitorescas, algumas horríveis, outras desumanas, porém, incrivelmente fantásticas.