Crônicas de Sala de Aula; Transitando pela História

Hoje terça-feira dia 27 de outubro de 2009.

Domingo, foi obviamente dia 25, há exatamente 34 anos atrás, o jornalista Vladimir Herzog, saiu de casa, seu destino: Rua Tomás Carvalhal, no bairro Paraíso, em São Paulo, ali funcionava o Destacamento de Operações Internas - Comando Operacional de Informações do 2º Exército, o DOI-CODI, o relógio marcava poucos minutos para ás nove da manhã.

No meio da tarde, não havia mais vida.

Vlado passou por uma sessão de tortura, choques elétricos, interrogatório.

Mais tarde a Agência Central do SNI, divulgava que o jornalista Vladimir Herzog suicidou-se no DOI-CODI/II Exército.

Enquanto trabalho com meus alunos e alunas o período dos governos militares em nosso país, a revista Aventuras na História, edição do dia 26 de outubro de 2005, com uma matéria especial sobre Herzog, circula pela sala.

Peço que atentem bem para a foto tirada pelo Instituto de Criminalística do Estado de São Paulo, uma cena montada pelos militares, que tentavam maquiar o assassinato.

Chamei a atenção sobre o período transcorrido de 1975 para 2009, pouco tempo, em termos históricos.

Procuro sempre levar meus alunos á reflexão em relação á liberdade democrática que hoje possuímos e que se hoje estou aqui escrevendo livremente esta crônica, foi á custa da vida de muitas pessoas, como a de Vlado.

Acontece que é preciso mais do que nunca encontrarmos um equilíbrio entre essa liberdade, valorizar a mesma.

Por mais que possamos não concordar com certas coisas que ainda acontecem em nosso país, hoje podemos questionar, discutir, promover debates, sem o risco de desaparecermos após uma aula polêmica.

Essêncial é o exercício cotidiano deste respirar democrático, perceber que esta geração que aí esta, tem a oportunidade de conhecer a história nas entrelinhas, em suas minúcias fatalísticas.

Durante minha vida escolar, engoli uma história forjada, maquiada, que refletia os interesses de todo um segmento corrompido e cabuloso.

Por incrível que pareça foi somente durante minha trajetória acadêmica que a venda de meus olhos foi retirada, neste momento pude sentir a mesma sensação descrita por Platão do personagem que sai da caverna e vislumbra-se com a luz, depois retorna para trazer os companheiros para fora da escuridão.

De certa forma nós professores conscientes de nossa responsabilidade realizamos esta tarefa, travamos um embate, saímos da escuridão e retornamos, no caso cada sala de aula pode e deve ser vista como aquela caverna, onde as sombras projetadas criam uma falsa sensação em nossos alunos, em cada aula temos a oportunidade de dissipar estas sombras.

Ontem á tarde enquanto falava sobre o processo de independência do Brasil, argumentei que aquela cena pintada retratando D. Pedro empunhando sua espada, é apenas um retrato projetado pela inspiração de um artista.

Explique que o processo de independência foi uma farsa que somente dissolveu o pacto colonial, que as elites, os grandes proprietários de terras apoiavam D.Pedro, o povo foi excluído deste processo, os ideais liberais eram sufocados e a escravidão não poderia acabar.

Neste momento citei o deputado Márcio Moreira Alves, que convocou os estudantes a não participarem dos desfiles de 7 de setembro de 1968, como forma de repúdio ao regime militar.

Este fato desencadeou o Ato Institucional AI5, que dava ao governo o poder de fechar o Congresso Nacional, cassar quem quer que se opusesse aos mandos e desmandos militares.

História é exatamente isso, transitar pelos diferentes momentos, realizar conexões, e com este exercício despertar o espírito crítico, a reflexão de nossos pupilos!

Julia Lopes Ramos
Enviado por Julia Lopes Ramos em 27/10/2009
Código do texto: T1889504