Coisa de louco

"No mundo tem gente pra tudo”, diz o adágio popular. Pessoas que topam qualquer parada, a qualquer hora, sem medir as conseqüências. Nada faz diferença para elas. Algumas são alegres, irreverentes, brincalhonas, fofoqueiras, exóticas, inusitadas, sábias, bobas, malandras, boas ou más. Outras são incapazes, ridículas, e, por isso, cometem loucuras, às vezes irreparáveis.

O mundo é assim, heterogêneo também em relação às pessoas, díspares em gostos e atitudes. Aliás, o que seria do bonito sem o feio para encantar-se com sua formosura; do magro sem o gordo para servir-lhe de chacota; do alto sem o baixinho para alegrar-lhe as piadas; do doce sem o amargo para valorizar-lhe o sabor, ou da tristeza se a alegria não viesse depois?

Por sugestão de amigo, da mais alta consideração, refleti sobre nomes de pessoas de difícil pronúncia, e mais ainda de se escrever de “carreirinha”, como dizia “Zeca Diabo”, no seriado “O Bem Amado”. Pois bem. Pediu-me o amigo que escrevesse sobre esses nomes.

Após árdua pesquisa, obtive extensa relação. Esforcei-me para entender porque um pai, sem dó nem piedade, dá a um filho designações que lhe marcarão a vida, tornando-o vulnerável às brincadeiras irreverentes dos amigos?

Os pais dessas crianças, possivelmente tiveram o propósito de homenagear ídolos do cinema, do futebol, da política ou desejaram registrar fatos, acontecimentos e circunstâncias que lhes marcaram a existência. Quem sabe, por serem irreverentes demais, excessivamente brincalhões ou irresponsavelmente ridículos.

Nomes de batismo de certas pessoas, como Escrotelvina Telvina; Vaginaldo Pinto Cabelo; Jacinto Pinto; Ácido Acético Etílico da Silva; Colapso Cardíaco da Silva; Cólica de Jesus; Remédio Amargo; e Esparadrapo Clemente de Sá, talvez tenham sido inspirados nas partes íntimas do homem e da mulher ou por serem os pais dessas crianças médicos ou enfermeiros.

Alguns pais homenagearam astros do cinema, da televisão e do futebol, batizando os filhos de Flávio Cavalcanti Rei da Televisão, Avagina (formado dos nomes das atrizes Ava Gardner e Gina Lolobrigida), Tospericagerja (tomados emprestados das primeiras sílabas dos nomes de Tostão, Pelé, Rivelino, Carlos Alberto, Gerson e Jairzinho).

Outros inusitados registros fazem parte da minha pesquisa. Constatei a existência de cidadãos chamados de Hidráulico Oliveira, Janeiro Fevereiro de Março e Abril, João Cara de José, José Catarrinho, Antônio Veado Prematuro, Carabino Tiro Certo, Manuel Sovaco de Gambá, Maria da Segunda Distração… E muitos outros.

Se for verdade que “no mundo tem gente pra tudo”, talvez algum leitor, após ler esta crônica, manifeste o desejo de batizar seus futuros filhos com nomes marcantes e incomuns. Portanto, eis, aqui, algumas sugestões: João da Mesma Data, Himeneu Casamenteiro das Dores Conjugais, Chevrolet da Silva Ford, Restos Mortais de Catarina, Rolando Escada Abaixo, Vicente Mais ou Menos, José Casou de Calças Curtas, Benemérita do Rego Grande, José Xixi, Última Delícia do Casal...

Basta. É coisa de louco!