GENTE, COISAS, RUAS E NOMES
GENTE, COISAS, RUAS E NOMES
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Coisas e gente, cada qual a seu turno, têm nomes com a áurea e refulgente razão de que tudo não seja uma maçaroca só!
Mesmo tendo nome próprio, às vezes, esse nome é insuficiente.
Mas... Pedro é uma pessoa. Entretanto há mais de um Pedro. Como houve, o segundo, aquele que, por descendência, era dom. Dom Pedro II, filho de um outro dom, Dom Pedro I. Figuras da história brasileira. Nobres figuras, primeiramente a segunda, a que proclamou a Independência do Brasil (em relação a Portugal, claro!), em 1822; e a primeira, a segunda da Dinastia Imperial, que cedeu lugar ao primeiro Presidente da República (proclamada em 1889), Marechal Deodoro, hoje não apenas um nome de uma das estações da linha Leste-Oeste do Metrô paulistano.
Independentemente daquilo que conta a história brasileira, experimente caminhar por uma rua pela primeira vez. Olhe a sua esquerda, a sua direita e não encontre o nome dessa rua. De supetão, desponta a pergunta:
- Em que rua estou?
- Na Rua Sem Nome! – responde, na hora, sua cabeça, já meio confusa.
- A outra rua por onde passei, como era mesmo que se chamava?
Você volta, procura no lugar onde deveria estar a placa e nada encontra.
- Outra rua sem nome! Que raios de Vila é esta onde as ruas não têm nome?
Não é necessário identificar uma rua para o cidadão que mora nessa rua, já que ele sempre sabe o nome dela e, é muito certo, não é Rua Sem Nome. No entanto, o visitante (quisera poder dizer turista!), ou alguém que more em outra Vila, dificilmente saberá esse nome, a menos que indague a um outro alguém que, porventura, saiba informá-lo.
Para firmeza, na documentação relativa à propriedade de sua casa, que está localizada naquela rua, consta: “Uma casa construída em terreno de 10 metros de largura por 20 metros de comprimento, com frente para a Rua Dom Pedro II ...”
Para corroborar, é exatamente para esse endereço que segue o carnê de pagamento do Imposto Predial e Territorial Urbano, o imemorável IPTU. E o número da casa? Não há problemas, o morador subiu numa escadinha e, sem hesitar, pregou na parede a tabuletinha com o número do qual mais gosta: 13. Além disso, naquele carnê, para não criar confusões e, ainda, para facilitar o trabalho do mensageiro, está escrito: s/n (por extenso: sem número).
As coisas funcionam bem e como! A cada nova rua que nasce a atenção dos trabalhadores legislativos é implacável: bastam uma justificativa bem elaborada, a colocação em votação e o projeto está aprovado (ou como podem preferir alguns: a rua está batizada e com o seu nome devidamente registrado em atas e livros próprios!).
Todos os anos, no mínimo uma vez, os mapas recebem atualização e todas as ruas, alamedas, avenidas, vielas são nele incorporadas de sorte que mais uma modalidade de papel fica completa e repleta de informações.
Fica fácil de perceber que as coisas burocráticas caminham perfeitamente bem, não merecendo nenhum reparo.
Agora, você repara, bem rápido, que continua perdido ali na Vila onde foi procurar o pedreiro Pedro, o primeiro em qualidade de prestação de serviços de construção e manutenção civis, além dos preços módicos que cobra, Estas duas coisas jamais deixam Pedro na mão: Trabalho bem feito e, quando preciso, pagamento até a prazo, a juros zero!
O fato é que, embora esteja sendo raríssima a contratação deste tipo de serviço, o pedreiro Pedro assenta, com perfeição irrepreensível, Placas de Identificação de Ruas e Congêneres (desde que disponha delas...).
Há mais para dizer: Pedro, porque considera essa tarefa de assentamento como se fosse um serviço de utilidade pública, não cobra nada por esse trabalho e, por fim, ficará felicíssimo no dia em que a rua onde mora for contemplada com essas tais Placas, pois só se consegue localizar sua residência em virtude do bom nome que construiu para si e para sua profissão ao longo dos anos de batalha e a cada construção ou reforma que fez.
Ou, como canta Chico Buarque de Hollanda: “Pedro Pedreiro, Penseiro...”.