A Canoa Furada

Domingo ensolarado. Depois do almoço, Luzia, minha irmã mais velha, demonstrou vontade de aprender um novo ponto de tricô com a nossa prima Teresinha. Minha mãe consentiu e eu fui de companhia. Teresinha morava no Bairro Porto Velho, às margens do Rio Itapecerica.

Quase uma hora de caminhada e lá chegamos. Casa modesta, mas impecável na limpeza. O chão de cimento vermelho, encerado semanalmente, ostentava um brilho que dava gosto! Família numerosa: quinze filhos, entre crianças e adolescentes!

No quintal enorme e todo plantado, encontravam-se milharal, mandiocal, árvores frutíferas, tudo muito bem cuidado por Tio Geraldo. Ao fundo, passava o Rio Itapecerica.

Chegando lá, Tia Luzia nos recebeu com a hospitalidade de sempre e já foi para a cozinha preparar umas torradas para nos servir com chá de ervas colhidas no quintal.

Depois do lanche, nem nos lembramos de tricô. Fomos para o quintal e, correndo praqui, prali, avistamos uma canoa amarrada a uma árvore.

Nós éramos cinco: Luzia, Teresinha, os primos Nono, Matias e eu. Ninguém tinha mais que catorze anos. Entramos na canoa, sem salva-vidas e, sem saber nadar, fomos navegando pelo rio, não passando pela nossa imaginação o perigo que corríamos. Foi aquela algazarra. Cantávamos, gritávamos, celebrando nossa tão rara liberdade!

Sem percebermos, a canoa enchia-se de água. Um enorme buraco estava fechado com uma estopa, esta se soltou e desapareceu com o movimento das águas. Acudir, fechando o buraco com as mãos, foi meu primeiro impulso, enquanto os outros iam tirando a água da canoa com as mãos em concha. E, ríamos, achando a vida boa.

Eu penso que os anjinhos da guarda, naquele dia, tiveram muito trabalho conosco!

fernanda araujo
Enviado por fernanda araujo em 03/07/2006
Reeditado em 26/05/2012
Código do texto: T187041
Classificação de conteúdo: seguro