DIA DO MÉDICO*

Prof. Antônio de Oliveira*

Um grande desafio, para o profissional da saúde, consiste em aliar a dosagem de calorias para o calor do corpo humano com o calor humano. Calor humano lembra abraços, mãos, aperto de mãos. Quando se fala em mãos, a gente pensa em quem trabalha com as mãos, cirurgião, ou em que produz arte com as mãos, artesão. Desde os braços levantados e as mãos abertas, como a da mulher orante, na catacumba de Santa Priscila, em Roma, século III, às mãos operárias, passando pela mão estendida e pelo gesto de se darem as mãos, trabalhar com as mãos é símbolo de nível operante, é mão-de-obra, força do trabalho, mais-valia, sem serem mãos de Eurídice, monólogo, mas diálogo.

O que mais caracteriza o artesão é o processo natural e humano, o cuidado peça por peça, caso a caso. O próprio ser humano é concebido, maturado, gerado um a um.

Com o progresso da industrialização, passamos, não apenas a conviver com a produção em série, mas a fazer uso da automação. A personalização perdeu espaço e a isso não ficou imune o atendimento proporcionado pelos profissionais liberais.

A confissão auricular cedeu lugar ao divã do analista. Paulo Coelho se senta na margem do Rio Piedra e chora. Mago, ele fala a linguagem do coração e conquista uma multidão de leitores. É a natureza humana que clama pelo resgate de espaços, espaços não preenchidos pelos intelectuais nem pelos tecnólogos.

O artesanato humano é mais importante que o artesanato de peças materiais.

Tomás de Aquino, considerando órgão dos órgãos a mão, descreveu o ser humano como tendo razão e mão: habet homo rationem et manum - o homem possui razão

e mão. Mão e razão formam uma dobradinha, dupla boa para trabalhar junto, e fazem a diferença. Isso significa que nós devemos resolver nossos problemas raciocinando e agindo, fazendo, produzindo, numa feliz e fecunda associação de cérebro e mão.

Todo mundo faz questão do próprio nome, quer ser chamado pelo nome ou até por um apelido carinhoso. Ser reconhecido como alguém na vida é, basicamente, um processo de autoidentificação.

Artesão da medicina, grande ideal! Deposita-se nesse profissional enorme confiança, mesclada até de hipocondria e masoquismo. Nessa relação está embutido o fato de um paciente, física e psicologicamente, sentir a necessidade de procurar o seu médico de confiança. Com essa confiança comemoramos, em 18 de outubro, o Dia do Médico. Confiança, fator preponderante então na cura de quem, perrengue, padece de doenças funcionais. Conheci um médico, no interior de Minas, que era constantemente procurado para homologar receitas de colegas. Polêmica à parte sobre a natureza do mito, o certo é que, sem os ingredientes subjetivos de fé e confiança, não se concebe, não se representa nem se propaga imagem, nome, prestígio profissional.

Seja o jaleco branco não uma mera indumentária, mas um símbolo de transparência, por toda a vida, de competência, dedicação, probidade, clarividência, clareza de intenções. Transparência, sim, mas não como a transparência opaca, e que não serve de (bom) exemplo, de tantos (des)classificados políticos. Ninguém merece...

Feliz Dia do Médico, não com abraços, mas com um abraço bem artesanal, personalizado, um por um, uma por uma.

* 18 de outubro

**Coordenador e Supervisor da Consultoria Acadêmico-Educacional (CAED). Técnico em assuntos educacionais há 30 anos, com experiências no serviço público e na atividade privada. Mestre pela Universidade Gregoriana de Roma. Realizou estágio pedagógico em Sèvres, França. É graduado em Estudos Sociais, Filosofia, Letras, Pedagogia e Teologia. Pesquisador e consultor, presta assessoria, dentre outras instituições, à ABMES, Associação Brasileira de Mantenedoras do Ensino Superior, sendo responsável pela montagem do Anuário de Legislação Atualizada do Ensino Superior. Ministra também cursos de legislação do ensino superior.

fernanda araujo
Enviado por fernanda araujo em 16/10/2009
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