DIA DO PROFESSOR

Prof. Antônio de Oliveira*

O exercício de certas profissões, pelo menos informalmente, não é monopólio de profissionais legalmente habilitados.

1. De médico e de louco todos temos um pouco. Em geral somos médicos improvisados, porém convictos e firmes, mais seguros que os profissionais da área da saúde. Uma pessoa que apresente algum mal-estar, inclusive dor de cotovelo, espinhela caída, nó nas tripas, recebe de graça mil e uma fórmulas de receitas milagrosas consideradas infalíveis. É tiro e queda...

2. De médico e de professor todos temos um pouco. Pai é professor. Prefeito também. Por natureza, mãe é professora, educadora, enfermeira de plantão.

O servente de pedreiro aprende a profissão ao lado do pedreiro. Com a mão na massa, ambos constroem, tijolo por tijolo, operação que lembra construtivismo.

Hoje em dia, onde o marco divisor entre ensino formal e informal, presencial e virtual, a distância? Mas uma coisa é ver e ouvir um cantor famoso, outra, apenas ouvir. A presença física, de si, já uma linguagem, pode suscitar maior admiração ou mesmo decepção. Difícil e desafiante estar ali, presente na posição de profissional, pois a presença física, sem conexão automática com uma tomada, se mescla em pedagogia face a face, em personalidade questionadora sem ser controvertida nem destrutiva e sem postura senatorial ou arrogante. Desse jeito, só quem ganha muito, usufrui de mordomia, nem se lixa para o povo, que é tido como de opinião volúvel. E, com uma tal de imunidade na lapela, não para, não olha, não escuta. Ninguém merece...

3. Sou ligado numa parada de estrada de ferro, dessas bem interioranas, para mim sempre bucólicas. Não sei por que, mas uma estação me faz lembrar um recanto especial, um retiro de gente, um posto de abastecimento. E cada vagão de passageiros (assumo que estou viajando) me faz lembrar uma sala de aula, confinada. A sirene da escola toca; o sino da estação também bate. Que nem coração de gente. A estação também tem um chefe, um diretor. Dada a partida, a aula também engrena. Findo o percurso, finda a aula, nova parada... Um dia alguém é recebido merecidamente, com banda de música e passagem ainda na mão, na Praça da Estação ou na Rua Professor Fulano.

Há ainda quem se lembre de dar nome de professor a uma rua...

4. Colega, hoje é seu dia, nosso dia. Que tal sermos recepcionados também com banda de música, com uma boa retreta? Sabe que de vez em quando há alunos ou ex-alunos que nos acenam do trem da vida? Experiência própria. Hoje estou aposentado. Mas ainda tenho saudade do vagão de passageiros, da estação, dos intervalos (quando aprendia tanto com os colegas). Deixa estar, o Trenzinho Caipira continua viajando por trilhos dilatados, por paisagens inóspitas, ciranda e destino, cidade e noite a girar, pro dia novo encontrar, cantando pela serra o luar, com efeitos onomatopaicos de locomotiva. Viver é perigoso, mas é gostoso. Desculpe-me, estava esquecendo que você é mestre. Você é que tem de dar sua aula. Antes, um abraço no seu Dia, no nosso dia...

*Coordenador e Supervisor da Consultoria Acadêmico-Educacional (CAED). Técnico em assuntos educacionais há 30 anos, com experiências no serviço público e na atividade privada. Mestre pela Universidade Gregoriana de Roma. Realizou estágio pedagógico em Sèvres, França. É graduado em Estudos Sociais, Filosofia, Letras, Pedagogia e Teologia. Pesquisador e consultor, presta assessoria, dentre outras instituições, à ABMES, Associação Brasileira de Mantenedoras do Ensino Superior, sendo responsável pela montagem do Anuário de Legislação Atualizada do Ensino Superior. Ministra também cursos de legislação do ensino superior.

aoliveira@caed.inf.br - www.caed.inf.br

fernanda araujo
Enviado por fernanda araujo em 14/10/2009
Reeditado em 14/10/2009
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