VIDA
A varanda, vazia de crianças, era a incompreensão de Cavalcanti. Marina há de ter esse filho! Bendito filho! Que nome teria? Poderia chamar-se Fernando...João Antônio... Tantos nomes, tantos significados e tantos mistérios.
Mas.
Uma menina! Se fosse uma menina! Mariana? Clara? Letícia? Luíza? Alguns anos que Marina tentava engravidar sem sucesso. Um tormento para ela e Cavalcanti, marido bom e ansioso.
Noites sem lua aparente no céu, muitas dúvidas, contas, telefonemas, cuidados, riscos da vida – se não existe risco, não existe vida – A vida. Afinal, o que é a vida? Um fio invisível? Um farol? Um garoto pedalando na praia, despreocupado e feliz? Ela pode não aguentar, assim como a irmã não tinha suportado... A prima também sofreu do mesmo mal...
Contudo.
Marina engravidou.
Cavalcanti ansiava...
Marido bom e ansioso.
Noites que passam. Dias que passam. Ponteiros que andam.
Cavalcanti ansiava...
A mulher, entre remédios e hospitais. O marido, zeloso com as coisas da casa, limpando a calçada pela manhã, arrumando os armários, recolhendo a roupa, dormia pouco.
A peça humana dividida em dois atos: antes e depois. Bravo William! Decerto os palcos ingleses saboreavam menos teus olhos quando comparados à vida. Ou o contrário. O contrário de tudo. Vida que segue sem demora. Não há hora! Há hora. A hora de ser e de estar no mundo...
Fim do primeiro ato: Marina aguentou a gestação...
Início do segundo ato: o nascimento.
Abria seus olhos negros para o mundo o pequeno Fernando. O céu estava limpo, o calor intenso, onze horas do mês de novembro...
Janelas abertas para o sol, varanda feliz, brinquedos e brincadeiras, tapete molhado, risos e choros, mais brinquedos ao chão. Fernando quebrava pratos, corria pela sala, gostava de histórias de aventuras e, com os mesmos olhos negros, admirava o mundo, diferente e imenso, azul e infinito...
Terceiro ato: João Antônio, Clara e Letícia vieram fazer
companhia.