P'RA COMEÇO DE CONVERSA

P’RA COMEÇO DE CONVERSA

310.199

Numa rodinha de amigos que conversam descontraidamente, sempre que alguém, que estiver procurando uma carona, fizer esta pergunta: “Você sabe quem vai para São Carlos?”, imediatamente, de um deles virá a infalível resposta: “O ônibus!”.

Isto aconteceu bem mais do que uma vez e vai continuar acontecendo enquanto não for mudada a pergunta, cuja nova forma, para evitar aquela tradicional e manjada resposta, poderia ser esta: “Além do ônibus, você sabe quem vai para São Carlos?”.

Aquele pequeno diálogo inicial mostra com clareza o espírito brincalhão que toma conta das pessoas diante daquilo que se considera uma pergunta mal posta, comumente confundida com uma pergunta cretina.

É bem verdade que é difícil resistir ante uma pergunta mal formulada, principalmente se a resposta jocosa estiver na ponta da língua.

Entretanto, pode ocorrer de a pergunta ser mal entendida a ponto de se pensar que seja mal feita.

Eis um exemplo. A irmãzinha, com aquele ar inocente, pergunta a seu irmão mais velho e já cansado do que estava fazendo: “Para que você está lavando sua bicicleta?”. A resposta surge de pronto: “Para sujá-la, sua besta!”.

Com toda a certeza a intenção da garota não era aquela que seu irmão entendeu. A simplicidade da pergunta é que originou aquela reação brusca!

Se fosse fazer a questão de um modo completo, irretorquível, talvez o esmero da menina devesse chegar a este ponto: “Mano querido, a qual lugar você vai depois que sua bicicleta estiver todinha lavada e limpa?”.

Parece ser outra pergunta! Todavia, as duas questões querem dizer praticamente a mesma coisa: bastam um leve esforço e uma certa dose de boa vontade por parte de quem foi indagado e a resposta será dada com a merecida atenção e sem qualquer sarcasmo!

Os dois diálogos anteriores, curtíssimos, mostram que uma pergunta admite sempre mais do que uma resposta.

Por outro lado, a qualidade da resposta está diretamente relacionada com a qualidade da pergunta, aí havendo espaço também para o esforço de interpretação, tanto por parte de quem questiona quanto por parte de quem é questionado!

Em sua essência, este apanhado, a respeito de algumas perguntas que recebem respostas enviesadas ao invés de terem respostas adequadas, propõe-se a deixar claro que as “invertidas” acontecem no momento da formulação da questão:

a) ou por economia de palavras;

b) ou por simplificação de raciocínio;

c) ou talvez de ambos.

Por esses caminhos percebe-se que grande parte do êxito do diálogo pode ser creditada ao exato instante em que é desferida a fala inicial.

Ou seja, se a coisa começar bem, fatalmente terminará bem!