NÃO É O CALENDÁRIO QUE CONTA

NÃO É O CALENDÁRIO QUE CONTA

250.201

“Não se prenda à doença.

Agradeça as partes do corpo

que continuam saudáveis.”

Mensagens de Amor e Sabedoria

Livro de Seicho Taniguchi

Sem parar, Relógios e Folhinhas caminham de mãos dadas, lançando as marcas implacáveis do mais infalível amigo que a gente possui, o tempo, cuja irretorquível jornada ninguém sabe quando teve início nem aonde vai, a menos de que está em sua rota natural, à frente.

Embora corda e pilha esgotem-se ou a última folha deva ser virada, fatos estes que dão a impressão de ter chegado um fim para aqueles medidores de tempo, na realidade impassível, o que chegou mesmo é a hora de se substituírem as fontes, sejam de energia, sejam de papel ou plástico, para que não se mostrem marcações atrasadas.

Pior ainda seria não fazer essas substituições só para que as marcações não fossem mais exibidas, isto querendo indicar a inócua tentativa de pretender parar o tempo, justo ele que sempre continuará sendo amigo sincero e leal, apesar de ser bastante comum reclamar que ele faltou.

Contudo, esta última minúscula reclamação expõe uma ocorrência que, com admirável freqüência, flui à solta.

Observar, ainda que de leve, o lado bom das coisas parece ser bem mais difícil do que dar atenção exagerada ao lado ruim dessas mesmas coisas!

E esta maior facilidade de assimilação ao ruim traz consigo um fenômeno que prejudica as pessoas sem que percebam: restringe seu paladar a dulcíficos sabores, tampa-lhes os ouvidos ao canto dos pássaros, aperta-lhes as narinas ao perfume das rosas, nubla suas visões às cores do arco-íris, introduz-lhes impiedosamente sentimentos amargos em seus corações, em suma, nada mais faz do que reduzir habilidades ou até mesmo levantar obstáculos virtuais a exemplo de fornecer-lhes a imagem distorcida de que o tempo ficou mais curto.

Explicações sobre a força inerente àquele fenômeno requerem boas doses de paciência e de tempo.

Ao longo de sua trajetória de aprendizado terrestre (ainda que sobre assuntos aquáticos ou espaciais!) – eis que cada um de nós vem à luz desenvolvendo apenas funções naturais: tato sentindo o “tapa de partida”, coração pulsando, pulmões aspirando e expirando, músculos estirando-se e contraindo-se, olhos semicerrados, lábios buscando o seio materno, enfim, funções que significam a continuação de vida -, o homem incorpora mais de um aspecto a cada item que aprende.

A terra provê alimentos, mas “enterra” um corpo falecido; a água faz as plantas crescerem, mas pode “matar” quem desconhece o nado; um avião transporta passageiros e cargas à velocidade de 267 metros por segundo, mas, num segundo, pode “explodir” na aterragem forçada; a luz solar clareia o planeta, mas o sol “cega” se for visto a olho nu; a lâmina de aço inoxidável alisa o rosto barbudo, mas também “corta” uma veia do pulso; o urânio aciona usinas termelétricas, mas será elemento químico “aniquilador” se for combustível de bomba nuclear... E a lista de itens prossegue indefinidamente.

Assim, desde quando lhe são ensinados os mais elementares conhecimentos já começam a caminhar, lado a lado, os conceitos opostos de bom e mau, útil ou inútil,... , certo ou errado, bem e mal.

Aparentando seguir curso inevitável, essas posições antagônicas, onde a segunda posição representa o perigo constante que sempre ameaça a primeira, reúnem condições para ser a causa de maior valor atribuído ao lado ruim, pois quase sempre o perigo provoca medos, temores, aflições.

Em decorrência, quem estiver deste segundo lado assume posição de aliado e passa a ter sensações de diminuição daqueles efeitos advindos do perigo. Sentindo-se aliviado, quais razões fariam esse alguém “procurar pesos para carregar”, isto é, envolver-se em dificuldades, uma vez que é tendência natural ajustar-se à “Lei do Menor Esforço”?

Esta conclusão merece uma tradução inequívoca: é deveras muito mais fácil derrubar o balde do que colocá-lo em pé!

Nestas alturas entra em ação o nosso velho amigo, o tempo, conquanto seja indispensável que antes um outro alguém tenha posto o balde em pé para que depois alguém o derrube!

Como entre o antes e o depois há o agora, forma-se uma seqüência típica de tempo: amanhecer... entardecer... meia-noite... meio-dia... janeiro... abril... julho... outubro...

Então, não é o calendário que conta?