A ÚLTIMA OPORTUNIDADE
A ÚLTIMA OPORTUNIDADE
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Aurora. Esta é a hora!
Um homem morreu. Morte natural. Ele tinha exatamente noventa anos, pois, na mesma hora em que nascera, noventa anos mais tarde encontrou-o a morte. Completara seu ciclo global nesta vida na Terra. Nada tinha mais a fazer aqui. Ou tinha? Sim, ele tem muitas coisas para transformá-las.
Pode-se perguntar:
- Quais coisas são estas se ele está morto?
Deitado em sua urna funerária, ele começa a dar algumas respostas.
Mantenha atentos seus ouvidos e estes já vão se por a escutá-lo.
- Quando me encontro em horas de solidão, descubro que tenho todo o tempo do mundo para conversar com uma pessoa com quem jamais tinha tido tempo de dialogar: eu mesmo!
- “Ele é doido, louco! Falar consigo próprio! O quê é isso se não for sandice? Só pode ser isso!”
- Somente digo que minha mente está mais clara que nunca! Meu corpo está com noventa anos, mas não estou bastante certo de quão antiga minha mente é! Por exemplo – e você pode fazer isto também – quando me conduzo ao dia em que tinha apenas dez anos de idade, encontro-me indo a uma igreja onde aprenderei como rezar porque ainda não sei dizer orações aos Céus, estou certo! Agora ouça e modifique sua idéia. Todas as crianças estão cantando uma canção através da qual agradecem a Deus por dar-lhes a luz do sol, os prados, as montanhas, os rios, as flores, as abelhas e seu mel, o algodão vindo da terra que se transforma em camisas de algodão, a lã tosquiada dos carneiros que se transmuda em blusas que protegem seus pais que trabalham, em um dia frio, na fazenda onde mora a vaca cujos seis litros diários de leite fazem-nas satisfeitas e nutridas para irem à igreja onde agora serão capazes de orar... Volto ao presente e observo que gastei não mais que dez segundos para retornar ao passado, lá permanecer algum tempo e voltar ao presente... Por favor, pressione esse botão! Nossa aeronave está agora partindo rumo à Lua.
- “Hei, não há ar para respirar naquela atmosfera. Minha professora ensinou-me que é impossível respirar lá a menos que se tenha uma máscara de oxigênio com seus tubos e cilindros apropriados. Nós vamos morrer! Quero continuar vivo! Não é minha hora de desaparecer. Por favor, calma! Pare essa aeronave, por favor!”.
- Não se preocupe! Seus pés estão no chão, não há meios de alcançar a Lua sem um foguete. Você vê algum a nossa volta? Se for à base da NASA (National Aeronautics and Space Administration) haverá muitos deles lá, alguns prontos para iniciar uma nova missão, alguns deixados de lado por terem completado suas missões ou talvez porque sua tecnologia já esteja perdida, obsoleta e incapaz de repetir uma simples viagem à Lua, eis que ontem regressaram de uma missão em torno do Sol... Se eu não estiver errado você não gostou da idéia de pressionar aquele botão, mas suponho que não se importe em segurar este lápis para pintar um quadro. – “Como? Tenho apenas quinze anos! Se jamais pintei uma parede antes como poderia ser capaz de desenhar a imagem de um seis?”.
- Nada disse sobre o quê você iria pintar e já sabe que pintar a imagem de um seis é o motivo da tela? Veja! Caramba! Paul McCartney há onze anos compôs e cantou Figure of Eight (Imagem de Oito) e agora você pretende pintar uma imagem de seis? O quê é isso?
- “Não sei! Não a pintei ainda!”.
- Realmente, o lápis ainda está em minha mão. É verde. É um lápis colorido. Se for de seu agrado e, se permitir, vou desenhar-lhe uma figura de grama!
- “Mas é muito fácil pintar uma grama: você tem um lápis verde, tem um papel branco e uma mesa de granito para suportar o peso da grama que vai pintar!”.
- Sim, eu sei, porém não imagina onde é o lugar em que a grama será plantada!
- “Onde?”
- Sobre a terra fresca e úmida que cobrirá meu corpo tão logo esteja sepultado.
- “Você é um tolo, não tem limites, fala sobre a morte como se ela fosse um mero copo d’água, pronto para ser bebido!”
- E é, certamente! Por quê seria diferente? Há alguma razão especial? Você nasce, vive sua vida e morre! Esta é a vida! Ou não? Lá bem no começo, eu não tinha nada mais para fazer aqui somente porque morrera naturalmente com noventa anos contados pelos números de calendário. Portanto, era de se supor que minha vida tivesse terminado por completo. Entretanto, sobrevivi algumas palavras mais. Falei com você, fui a uma igreja de oitenta anos atrás, quase viajamos à lua, você decidiu não pintar uma imagem de seis devido aos seus quinze anos e, finalmente, não me deixou pintar aquela grama verde de que estávamos falando poucas palavras atrás.
É quase pôr-do-sol. Devem sepultar aquele antigo corpo antes que a luz-da-noite venha ou, então, ninguém verá mais nada!
Esta é a oportunidade: lembrar-se sempre de agradecer uma nova Aurora, pois o homem-de-noventa-anos agradeceu-a trinta e duas mil, oitocentas e setenta e duas vezes e meia.