O PÁTIO
A chuva, velha e conhecida companheira de lembranças trouxe-me lágrimas. Um pingo exclamativo na memória. Uma memória retorcida de pequenas e vagabundas paixões, a vida, enfim...
A manhã caía tristonha e eu observava as crianças gritando e correndo pelo pátio da escola. Elas estavam felizes, mesmo porque, não havia razão para o contrário... Dizia um amigo que: “Triste é quem tem medo da vida, medo de entendê-la, de vê-la face a face”.
No pátio, as pequenas criaturas sorriam, tinham brilho nos olhos, possuíam encanto, mistério, segredos que conheciam muito bem! Na verdade, eram aqueles seres aves indomáveis e livres, não tinham que provar nada para quem quer que fosse...
A saudade tocou-me os ombros com suavidade e mostrou-me um pátio vazio, vento e palavras sussurradas...Sinal que anunciava o início das aulas.
As professoras carrancudas e amarelas metiam medo em toda a sala, quando abriam os olhos como bolas de fogo, silenciavam o mais valente aluno do Bernardino de Campos...
O céu daqueles tempos possuía um gosto particular, as goiabas vermelhas e saborosas da rua Padre Marçal, tardes inteiras sob o sol forte...Brincadeiras, bola, camisa suja, joelho machucado... Corrida de bicicleta...
O tempo é uma invenção imprescindível.
Estranha sensação nos causa o passado: gosto de café forte, de chocolate quente, bolo de fubá, biscoito, pipas, bola, música, danças, sorrisos, olhares, primeiros beijos... Eta vida besta, meu Deus!
Fascínio.
O que impressiona no devaneio do passado, turbilhão infinito, é que todas as cenas estão ali, próximas aos olhos, quase palpáveis, quase audíveis e, no entanto, não passam de lembranças distantes, que ao toque do pensamento, chega-nos com gosto de coisa há pouco tempo vivida...