Cala a boca, Galvão!
Cresci meio que ao som das narrações do Galvão Bueno. Quando era moleque, eu me amarrava em fórmula 1, desde a época em que o Piquet começou a ganhar corridas e campeonatos. Ao som das narrações da fórmula 1 feitas pelo Galvão, assisti a ascensão, glória e o trágico fim do grande piloto e herói nacional Ayrton Senna. Tudo narrado pela voz do Galvão. Creio que isso me anestesiou o suficiente pra não entender muito a implicância que o povo passou a ter com o cara, principalmente quando ele narrava futebol.
Comparando mal e porcamente, sempre fui mais fã de F1 do que de futebol. Nunca fui daquele tipo de torcedor que sabe a escalação de time inteiro (bem, só daquele time do Flamengo, campeão mundial em 81... mas aquilo não era bem um time, era um exército, uma máquina de jogar bola direito, estavam um degrau acima na escala do futebol, então nem vou colocar na conta). Deixando o sentimental de lado, volto a afirmar que não sendo daqueles fãs mais exacerbados de futebol, a época em que o futebol me atrai mais é justamente na copa do mundo, pois além de ser o evento máximo do futebol mundial, é onde você pode ver o futebol em sua melhor forma, países se enfrentando, as melhores seleções , os melhores craques, jogos de alto nível, e com variedade de estilos, técnicas, modos de jogo, etc.
Daí, acaba que nunca fui de ver o Galvão narrando muito futebol mesmo. A visão que eu tinha do cara era a de um narrador televisivo com um estilo meio radiofônico, meio teatral, dono de uma boa voz, um tanto quanto exagerado, mas até aí, nada muito diferente do Luciano do Valle (esse sim eu detesto desde criancinha...mas outra hora explico por quê), ou do Silvio Luiz, ou do Osmar Prado quando ainda estava na ativa... Mas desde que passou a existir o Orkut e suas comunidades, já criaram coisas do tipo "Odeio o Galvão Bueno" e várias variantes... E nessa copa de 2006, o antigalvanismo atingiu proporções nunca antes vistas... Pois bem, senhores... acho que hoje, no jogo Brasil x Gana, pelas oitavas de final da copa, atingi o entendimento pleno do ódio que tanta gente nutre pelo cara... Como assisti num restaurante, onde puseram um telão, e tinha bastante gente assistindo, e como a transmissão escolhida foi a da Globo, era Galvão narrando. À medida que o jogo transcorria, o cara insistia em soltar uns palpites totalmente dispensáveis, uns comentários completamente inúteis, e chegava em alguns minutos até a "secar" a seleção... Acho que que ouvi muito mais vezes "cala a boca, Galvão" do que os tradicionais "vai" , "chuta", etc... que todo mundo que torce fala...
Sem contar com a sensação que passa, só de ouvir o cara transmitindo o jogo, de que os comentaristas, no caso desse jogo, Casagrande, Falcão, e Arnaldo Cezar Coelho, se sentem constrangidos (como qualquer ser humano normal) de estar perto de um cara que consegue falar tanta merda em tão pouco tempo. Bom, depois disso tudo, repensei as coisas, descobri que não sou de odiar ninguém, nem mesmo o Galvão, mas que mandá-lo calar a boca é uma coisa extremamente catártica (ainda mais quando se imagina que tem um país inteiro fazendo a mesma coisa naquele momento). Taí: mandar o Galvão calar a boca é um gesto que une um país.