BRIGA DE CORONÉIS AO VIVO

Prof. Antônio de Oliveira*

“Senatores boni viri, senatus autem mala bestia.”

Os senadores são bons sujeitos, mas o senado é uma calamidade,

assim diziam os antigos romanos. “Senator” deriva de senex, velho, idoso, tradicionalmente símbolo de compostura, compreensão, decência, desprendimento, discrição, educação, maturidade, parcimônia, ponderação, responsabilidade, sobriedade, palavras-chave, em ordem alfabética, para nortear uma comissão de ética de qualquer senado, colegiado máximo

da representação popular de poder legislativo.

Hoje, no Brasil, a frase acima talvez devesse ser invertida:

O senado é bom, mas nem todas as excelências são tão excelentes assim.

Lavadeira de beira de rio tem muito a aprender com essas excelências, de letras minúsculas mesmo. Não apenas porque dispomos hoje da máquina de lavar e do apregoado politicamente correto, mas porque briga de lavadeira, como se dizia antigamente, não está com nada... Bom mesmo é briga de senadores engravatados, ar refrigerado, cafezinho, etc., tudo por nossa conta, inclusive com direito a armar, num ambiente supostamente requintado, barraquinha, barraco e barracão, e em cima de piso collorido e atapetado.

E sem água para lavar a sujeira parlamentar.

Tropa de choque mais que tropa de elite. Com calheirerismo e não com cavalheirismo. Nada de um poético “barracão de zinco”, decente e romântico... Uma verdadeira esgrima com palavrões eufemizados. À noite, então, pelos telejornais, essas cenas de bang-bang salgado são de fazer perder o sono.

Ah, Cazuza, onde você esteja, você já sabe que país é esse?...

Antigamente se dizia também briga de comadres, hoje se diz baixaria, jogo baixo, golpe desferido abaixo da cintura, bate-boca de um, na tribuna, com outro, também com um poderoso microfone. Microfone também é uma arma letal que transmite, a longa distância e com alta precisão digital, palavras peçonhentas, de digestão venenosa.

Como fazê-las constar dos autos, ou de ata?

Nessa altura, dado o tom de agressões pessoais, como se não houvesse Brasil, nem os arranhões na língua portuguesa a gente nota.

A gente entende... no ardor da contenda pelo poder, arranhaduras na língua portuguesa se tornam irrelevantes, embora não desculpáveis partindo de excelências fazedoras de leis. Ninguém quer largar, uma vez iniciada a ordenha, as tetas grandes da vaca, de forma alguma tetas pejadas, pois não político, em geral, não tem tempo para pejo nem escrúpulos

Crise no senado é um eufemismo. Não seria pouca vergonha mesmo, desrespeito ao povo brasileiro? Ah... povo! Suave figura sofredora. Cidadãos! Brasileiras e brasileiros! Famílias com crianças desnutridas docemente afagadas, acariciadas e beijadas – com certa relutância interna, resistência ou algum tipo de constrangimento talvez – para poses demagógicas de campanhas eleitorais.

Poses comoventes... e quanta retórica!

Senhores senadores – nem tão idosos assim, em média – os idosos de hoje estão a dizer:

– Cada dia pior... Já não se fazem mais políticos como antigamente!

Em época de campanha, vale tudo. Candidato até se benze. Depois da barganha o negócio muda de figura. Nem os que usam barba grande, cabelo comprido ou bigode, podem fazer valer um fio... Fio de barba já não vale mais como palavra para palavra dada, empenhada ou penhorada em campanhas eleitorais. Mas senador não pode ser tratado como uma pessoa comum...

E ponto final. Disse quem pode e manda, e é defensor do cidadão comum.

E, para terminar, já que iniciei com uma frase em latim, cabe a pergunta, também em latim: – “Quousque tandem, Cantilena?” Perdão, Catilina...

Até quando, senhores senadores?

Excelências, “data venia”, ou com o perdão da palavra – pois perguntar respeitosamente não ofende – mais uma pergunta:

Chegamos ao fundo do poço, ou vêm mais trapalhadas por aí, com lances bufos e cenas burlescas?...

Afinal, é bom a gente se prevenir.

*Coordenador e Supervisor da Consultoria Acadêmico-Educacional (CAED). Técnico em assuntos educacionais há 30 anos, com experiências no serviço público e na atividade privada. Mestre pela Universidade Gregoriana de Roma. Realizou estágio pedagógico em Sèvres, França. É graduado em Estudos Sociais, Filosofia, Letras, Pedagogia e Teologia. Pesquisador e consultor, presta assessoria, dentre outras instituições, à ABMES, Associação Brasileira de Mantenedoras do Ensino Superior, sendo responsável pela montagem do Anuário de Legislação Atualizada do Ensino Superior. Ministra também cursos de legislação do ensino superior.

aoliveira@caed.inf.br - www.caed.inf.br

fernanda araujo
Enviado por fernanda araujo em 24/09/2009
Reeditado em 24/09/2009
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