Se eu pudesse estar longe

Se eu pudesse estar longe,

eu lá estaria.

Se de mim dependesse o acabar com a dor do mundo,

ela cessaria.

Tempos são difíceis e ficam mais difíceis a cada tempo que passa.

E não faz diferença se foi hoje pela manhã ou na tarde de ontem ou então há trinta anos.

Tantos sofreram para atingir aquilo que nunca atingiram.

E o legado social atual é tão dúbio e difícil de aceitar...

Totalmente incompreensível ...

O melhor é dormir.

Beber do líquido da garrafa da estante

e aguardar a sensação da incompreensão ceder espaços a risos,

e rir de mim mesmo.

Aqui sentado.

Eu, que nunca fui torturado.

Que nasci ao final da ditadura.

Onde, pouco tempo antes de eu nascer, homens e mulheres eram reféns da humilhação.

E gerações não puderam ser gerações...

Porque os mal-tratos, os choques e todas as torturas deixaram uns enlouquecidos, outros estéreis e todos em eterna depressão.

Porque eu vivo num mundo de circo

onde a felicidade parece não existir.

Waldick Soriano, diante de uma câmera focada em seu olhar, do fundo do seu coração, numa tristeza contagiante, disse que a felicidade não existe. Ele, um senhor de 75 anos, afirmou que passou a vida toda procurando a felicidade e ela não apareceu.

E ela vai aparecer?

Ou tudo o que chorei foi em vão?

Eu terei garantido o meu julgamento final?

Quitarei meu financiamento?

Quanto de caridade necessita um homem fazer?

Adianta eu me preocupar?

Ninguém sente saudades de mim como eu sinto saudades deles.

E delas.

E de todos.

Quanto tempo ainda eu vou esperar?

O que eu estou a esperar?

E se não tiver nada pra chegar?

E se nada acontecer?

E se o circo permanecer?

E se a nobreza não se enaltecer?

E se as flores morrerem?

Quem vai ficar para relatar?

Quem vai ficar?

Quem vai?

Quem...?

Se lá distante,

onde eu queria estar,

a rainha já se vai longe..

Na tentativa de se proteger,

sem saber do que..

Jeronimo Terra Rolim
Enviado por Jeronimo Terra Rolim em 22/09/2009
Reeditado em 02/04/2010
Código do texto: T1825435