A HORA DE VERDADE

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Determinados instantes surpreendem-nos por certas vontades de pensar ou escrever sobre coisas inesperadas, até parecendo difícil entender uma flor que emerge de seu botão.

As palavras soam dentro da gente como o sino soa dentro da torre: palavras duras, fortes sons que compõem um aglutinado que nem mesmo o coração entende, nem mesmo a torre escuta.

Tudo se passa tal e qual um relógio que expressa seu tic-tac insistente aos ouvidos como se quisesse contar um segredo que merece continuar segredo.

O dia-a-dia sugere, hora a hora, que a gente deve e pode ser menos frágil, precisando ser bastante hábil para driblar as adversidades que se alvoroçam a nosso redor. Isto porque, de fato, as adversidades são criadas através de cada olhar transversal lançado, de cada palavra desatinada proferida, de cada som distorcido nas malhas auditivas de nossos ouvidos destreinados para captar o insigne tic-tac, compassado e lancinante.

Isto lembra a gota d’água que começa a preencher o copo vazio, que nunca transbordará se cada gota for saudavelmente absorvida pela planta, que brota no coração, sedenta de um conselho bondoso, sempre presente num tic-tac.

Ah, mas é um conselho mecânico! – exclamará alguém – Engrenagens, pêndulos, ponteiros, algarismos, o que podem dizer?

- Fique craque! Fique craque! . . .

É uma lembrança persistente a tocar as nossas cálidas e interiores orlas e ondas, estas que desbravam caminhos adiante.

Descrevam-se, em poucas palavras, as impressões transmitidas pelas principais partes formadoras do mecanismo que emite um tic-tac:

As engrenagens – o mundo é mais do que um dispositivo que se movimenta, orientado por leis físicas: os homens, não os seus únicos habitantes, movem-se atrelados a leis humanas; os animais, as plantas, os minerais, enfim, os outros habitantes deste mundo desfilam seus movimentos engrenada e magnificamente unidos a leis naturais, as quais os homens, com base em leis físicas e humanas, têm se empenhado em enquaddrá-las em molduras inventadas pelo próprio homem, com isto pretendendo reduzir a aplicação espontânea dessas leis naturais.

Os pêndulos – o equilíbrio procurado pelos pêndulos gera o movimento das engrenagens; os pêndulos, como que julgando seus movimentos, sobem e descem, alternadamente. Cada qual tem a sua vez, não há pressa porque as horas que têm a indicar possuem a mesma velocidade, não importa se é tarde ou se é cedo.

Os ponteiros – a direção horária que apontam não é só temporal, é também emocional. Vinte e quatro horas, um para cada lado, porém unidos por um ponto que os solidariza em tarefa repetitiva e sempre renovadora.

Os algarismos – por fim, os algarismos completam a obra visionária. Números que são, somam-se, subtraem-se, dividem-se e multiplicam-se, sem jamais falharem em seus cálculos. A hora que indicam é exata, a qualquer hora que se os observe.

O tic-tac – de fato pode ir bem além do que um simples ruído mecânico. Pode estar desempenhando o papel de uma orquestra metálica que produza sons duros e palavras fortes para que um semblante fraco um craque fique!