TESOURA E TESOURO

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Embora a diferença visual crítica esteja nas respectivas últimas vogais de cada termo, o comum é que os dois acabem por cumprir funções similares: diminuir.

Nas mãos da costureira, da cabeleireira ou do jardineiro a tesoura dá forma a tecidos, encurta e ajeita cabelos ou apara gramas e plantas.

Um tesouro, tradicionalmente visto como um cofre cheio de moedas, estando longe ou escondido das mãos, acaba cortando esperanças e sonhos de se ter uma vida mais abastada, com casas, carros, piscinas, viagens e confortos outros.

Sendo estas as imagens mais habituais associadas à tesoura e ao tesouro, um pouco de pensamento, ou mesmo de lembranças de acontecimentos anteriores, trará outras significações.

Quem nunca viu uma tesoura na mão de uma criança ser como um instrumento cortante capaz de machucar-lhe as mãos devido à criança não saber como usá-la?

Quem nunca viu um tesouro na mão de um adulto ser capaz de causar-lhe a ruína precipitada?

Quem nunca ouviu que determinada língua tem uma habilidade incrível de trabalhar como tesoura para “cortar” sobre o modo como fazem ou vivem outras pessoas?

Quem nunca ouviu dizer que aquele lar foi agraciado com a chegada de um tesouro, um bebê que acaba de nascer, removendo tristezas ou solidões?

Em outras acepções: numa fábrica, a tesoura mecânica que corta chapas de aço para configurar outras formas de produtos; numa administração pública, o tesouro governamental que desenha e recorta os números financeiros de um país, estado ou município, para ajustá-los a valores palpáveis e plausíveis.

Estas bem conhecidas idéias contidas em tesoura e tesouro não escondem tesouros nem usam as tesouras para recortar mapas que conduzam a tesouros.

Entretanto, o tesouro da tesoura e a tesoura do tesouro não são muitos os que realmente têm oportunidade de vê-los.

Um botão de rosa que desponta a partir de um galho podado em uma roseira será, para a jovem adolescente que o recebe, o tesouro da tesoura que podou o galho.

A jóia incomum, confeccionada em ouro, será a tesoura do tesouro entregue como troféu à melhor cabeleireira da cidade, já que reduziu o tempo de espera por tão acalentado prêmio.

Estas descrições estariam revelando aquele tesouro e aquela tesoura, então. Contudo, não é isso, nem o corte afiado e hábil da tesoura e nem a chave do segredo do tesouro que os tornam mais do que são.

As virtudes das mãos e cabeças que operam o tesouro e a tesoura são, de fato, as criadoras do tesouro da tesoura e da tesoura do tesouro.

A tesoura que corta os males pelas raízes é um tesouro porque deste corte certamente só bens haverão de brotar, beneficiando aqueles que desses males se livraram.

O tesouro que se reparte em partes sensíveis é uma tesoura que certamente corta aflições e dores de parte de um significativo grupo de gentes.

Assim, pode-se enxergar, e sem realizar esforços extraordinários, que em algum lugar onde parecer haver diminuição poderá estar acontecendo exatamente o contrário. O resultado fica por conta das lentes que se usam!